Título: O pasto e os apetites
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 27/04/2006, O GLOBO, p. 2

O PMDB fará toda a diferença na disputa presidencial. Um candidato peemedebista que alcance pelo menos 10% da votação nacional levará o pleito para o segundo turno. Mas a candidatura de Garotinho levou um tiro no casco com as denúncias sobre doações de laranjas para sua pré-campanha. Por isso tucanos e petistas caem sobre o PMDB como bois famintos atacando a pastagem verde.

Nas últimas horas os adversários da candidatura própria ¿ lulistas e oposicionistas ¿ fizeram forte movimento para garantir a antecipação da convenção de junho para 13 de maio e nela removerem esta idéia prejudicial a seus planos de livre-aliancismo nos estados. O PT, através do ministro Tarso Genro, fez uma oferta alta e pública de aliança para o segundo turno e de compartilhamento do governo num eventual segundo mandato de Lula. Os tucanos dão suas bicadas e avançam sobre o PMDB paulista.

Os paulistas Michel Temer, presidente do partido, e Orestes Quércia são tidos como os últimos pilares da candidatura própria e dão sinais de que vão ceder. Temer, que dela já foi ardoroso defensor, pensa em ser candidato ao Senado na chapa de José Serra. Para isso, por força da verticalização, o PMDB não pode ter candidato. Já tendo estado tão próximo de Garotinho, Temer agora o elogia e diz que é ¿por dever de ofício¿. Quércia, que apoiava Rigotto e depois lançou a candidatura de Itamar Franco, também já pensa nas vantagens de embarcar no vagão de Serra, que parece destinado a parar na garagem do Palácio dos Bandeirantes. Quércia topa ser candidato a vice ou a senador. Mas Serra não pode firmar compromissos agora, antes que sejam superados os estremecimentos que vêm abalando a aliança nacional entre PSDB e PFL. Convalescente, não tem pressa de tirar o dreno pós-cirúrgico. A quem telefona, atende lamuriento.

Se os adversários da candidatura própria do PMDB conseguirem acabar com ela oficialmente, jogo feito. Ficarão todos livres para apoiar quem quiser, inclusive os lulistas. O outro caminho é investir na implosão da candidatura de Garotinho, agora já bastante avariada. Restará o enigma Itamar. Para muita gente, não há mistério. Depois de contribuir para afastar Garotinho, ele acabará sendo mesmo candidato ao Senado por Minas é ainda terá grande crédito com o governo Lula. Num eventual segundo mandato, poderá pedir o que quiser. Itamar não gosta do governo Lula mas gosta ainda menos dos tucanos (com exceção de Aécio Neves) e de Fernando Henrique. Ele guarda no congelador a mágoa com o sucessor, por ter ele festejado com os peemedebistas no Alvorada a derrota imposta à sua pré-candidatura, à base de vaias e cadeiradas, na convenção de 1997. José Dirceu, que o visitou há poucos dias, compreende Itamar e entende de Itamar.

Para o presidenciável tucano Geraldo Alckmin, que acampou em Brasília para administrar os problemas com o PFL, o que de pior pode acontecer é a retirada do PMDB da disputa presidencial. Se nela ficarem apenas ele, Lula e candidatos sem potencial para chegar aos 10% dos votos, como Roberto Freire e Heloisa Helena, o risco de a eleição ser decidida no primeiro turno é grande. Tecnicamente, esta possibilidade cresce e hoje ela favoreceria Lula, embora o tucano possa virar o jogo até outubro.