Título: Uma conexão com várias pontas e os mesmos sócios
Autor: Carla Rocha e Maiá Menezes
Fonte: O Globo, 28/04/2006, O País, p. 9

ONGs são ligadas a cooperativas que recebem do estado

A escola Joan Miró em Pendotiba, Niterói, está ligada a sócios das quatro empresas que fizeram doações à pré-campanha de Anthony Garotinho à Presidência e a ONGs que receberam recursos do estado por meio da Fundação Escola do Serviço Público (Fesp). Sócio majoritário da Virtual Line, Luiz Antônio Motta Roncoli é diretor da ONG Inep, que informou em ata ter comprado o imóvel para instalar a escola. É o mesmo endereço da Coopensino, onde Roncoli também figura, que é presidida por outro doador: Frederico Guilherme de Souza Irapunam Palmeira, da Teldata Comunicações, de Pernambuco.

Há outras coincidências: Marcos André Coutinho, da empresa Inconsul, que também doou para a pré-campanha de Garotinho, é professor da Joan Miró, que é uma escola particular de ensino fundamental. Ontem, uma pessoa que atendeu os repórteres do GLOBO pelo interfone informou que Marcos estava viajando e que não tinha data para voltar. Ninguém se apresentou como responsável pela escola.

Uma ata da Coopensino, de novembro de 2003, revela que ela tem ainda outros associados que também aparecem como sócios das empresas doadoras e nas ONGs contratadas pela Fesp. Entre eles, o contador Estefano Bezerra da Silva, sócio da Inconsul e da Emprin. O documento cita ainda João Luiz Brandão e Pedro Augusto Motta Roncoli, que são diretores da Pró-Service ¿ cooperativa que reúne representantes das três empresas do Rio que fizeram doações para a pré-campanha de Garotinho.

A Virtual Line, a Inconsul, a Emprin e a Teldata doaram juntas R$650 mil, de acordo com a prestação de contas do PMDB. As ONGs ligadas a elas ¿ Inep, Inaap e IBDT ¿ receberam, de 2003 a abril de 2006, R$112,5 milhões por meio da Fesp.

Reclamação trabalhista cita Ricardo Secco

Numa reclamação trabalhista de 2004, um ex-funcionário da Pró-Service e da Coopensino diz que o empresário Ricardo Secco fez uma palestra como representante das entidades. Um professor de Ciências Sociais disse que foi convidado para trabalhar num portal da internet de educação à distância, mas foi pago por meio das duas entidades para burlar leis trabalhistas. Ele relatou que recebeu primeiramente pela Pró-Service e depois pela Coopensino. Ele disse que os professores passaram a suspeitar da legalidade dos contratos e que foi feita então uma palestra por Secco.

De acordo com o professor, Secco teria falado sobre as ¿maravilhas do cooperativismo¿ e sugerido que os funcionários fizessem contribuições para arcar com as próprias despesas de férias e licenças. O professor ainda afirmou que, ao ser questionado, Secco afirmou que ¿possuía diversas cooperativas e que jogava com elas de acordo com as circunstâncias¿.

Num outro depoimento à Justiça, Etelma Almeida dos Santos, ex-funcionária da Coopersonal, disse ter sido chamada à sede da entidade pelo ¿senhor Secco¿ que teria sido apresentado como administrador ou dono da cooperativa. A Coopersonal, oficialmente, foi fundada por Luiz Antônio e Pedro Augusto Motta Roncoli, Secco não foi encontrado para comentar o fato