Título: PT INICIA ENCONTRO DIVIDIDO SOBRE AS ALIANÇAS
Autor: Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 28/04/2006, O País, p. 12

Partido lança hoje a campanha à reeleição de Lula e discute erros, punições a dirigentes e uso de caixa dois

SÃO PAULO. O PT lança hoje a campanha pela reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva dividido sobre o desejo do presidente de decidir livremente as alianças políticas e seus interesses regionais. Lula quer independência total, inclusive nos estados, e espera que seu partido abra mão de candidaturas próprias em nome de apoios prioritários, como o do PMDB. Ainda sem admitir que é candidato, Lula participará apenas da abertura do Encontro Nacional do PT, com um discurso, por volta das 17h de hoje. Os debates polêmicos acontecem apenas no sábado e domingo, no maior encontro já realizado pelo partido.

¿ Há um entendimento no PT de que é preciso construir a vitória eleitoral de Lula. Nossas divergências são pontuais, focadas na política de alianças ¿ disse o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini.

A corrente de Lula e Berzoini, Unidade na Luta, detém cerca de 42% dos votos do encontro e propôs uma emenda que libera o presidente e o comando da campanha para definir alianças. Berzoini disse ontem que a polêmica sobre alianças sempre houve no partido e que cumprirá a decisão do encontro:

¿ Quem vai decidir (se Lula terá liberdade total ou não) é o encontro nacional.

¿O PT é quem precisa colar sua imagem em Lula¿

Aliada da Unidade na Luta, o PT de Lutas e de Massa, que detém 5% dos votos, defende que o partido passe um cheque em branco para o presidente.

¿ Na verdade, é o PT quem precisa colar sua imagem em Lula, que já tem a preferência nacional. Lula é maior e precisará se movimentar por vários palanques. Isso é perigoso para o PT, mas vamos conseguir ¿ disse Francisco Campos, da corrente PT de Lutas e coordenador geral do encontro nacional.

Considerada a segunda maior força unitária do partido, com 14% dos votos, a corrente de centro Movimento PT ameaça bater o pé contra o trânsito ilimitado do presidente Lula.

¿ Nossa corrente (Movimento PT) tende a ajudar, mas queremos acompanhar as alianças ¿ disse o secretário de organização, Romênio Pereira.

As correntes de esquerda, que concentram pelo menos 25% dos votos, querem liberar alianças apenas com os partidos de esquerda. Segundo Campos, a possibilidade de um acordo com pequenas restrições para o presidente formar um amplo arco de alianças é grande.

Os dois textos que serão apresentados e discutidos no encontro, de diretrizes eleitorais e de alianças, definem o PT como ¿esquerda política¿ e fazem críticas pontuais à gestão no governo e aos erros táticos ocorridos no período.

Também são cobradas punições para os dirigentes acusados de fazerem caixa dois no partido. Os textos recebem emendas até o fim do dia de hoje, mas ontem já eram considerados quase consensuais, segundo o vice-presidente do PT e assessor especial de Relações Internacionais de Lula, Marco Aurélio Garcia.

Um dos pontos que provocam discussões mais acaloradas são as finanças do partido. A maioria quer deixar claro que o partido terá como controlar sua atuação sem caixa dois.

¿ Teremos debates e emendas por causa do pedido de punição e sobre as finanças da campanha. Vamos ter muito cuidado nisso ¿ disse Campos.