Título: FREIO NOS CORTES DE JUROS
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 28/04/2006, Economia, p. 29

Ata do Copom diz que BC pode reduzir ritmo de queda e cita aumento dos gastos públicos

Surpreendendo ao usar a palavra ¿parcimônia¿, o Banco Central (BC) indicou ontem que poderá diminuir já a partir da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) a intensidade dos cortes na taxa básica de juros (Selic). O BC atribuiu a tendência de desaceleração às incertezas sobre os efeitos dos últimos cortes na atividade econômica e na inflação, à alta dos gastos públicos com o ano eleitoral (incluindo o reajuste do salário-mínimo), e à disparada da cotação do petróleo, que pode levar a reajustes dos preços dos combustíveis. Também preocupa o fato de as próximas decisões terem impacto sobre os indicadores de 2007.

Nas últimas quatro reuniões a Selic foi reduzida em 0,75 ponto percentual, e já se esperava que o BC sinalizasse uma postura mais comedida. Mas essa indicação veio antes do esperado, dividindo o mercado. Alguns analistas já esperam redução de apenas 0,5 ponto percentual na próxima reunião, em 30 e 31 de maio. Mas vários ainda apostam em 0,75 ponto. A Selic está em 15,75% anuais.

Como em atas anteriores, o BC voltou a defender que boa parte dos efeitos das reduções da Selic ¿ que somam quatro pontos percentuais desde setembro ¿ ainda não se refletiu na economia e, conseqüentemente, na inflação. Sobre a política fiscal, porém, foi mais enfático, alertando sobre os gastos do governo, que, somados ao aumento do nível de emprego e de renda, mexem com o Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país).

Maior risco com alta do petróleo

Apesar de julgar que o cenário externo continua favorável, o BC vê mais riscos de alta nos preços dos combustíveis, já que o barril do petróleo está acima de US$70. Mas, por enquanto, não projeta reajustes para gasolina e gás de botijão. Para telefonia fixa e energia elétrica, o BC manteve as projeções de 3,1% e de 3,6% de alta, respectivamente.

Boa parte dos analistas mantém a projeção de que a Selic encerrará 2006 a 14%, o menor nível da História. A divisão é sobre o ritmo dos cortes até lá. Para alguns, o BC está excessivamente preocupado, já que a inflação está sob controle e o crescimento econômico é moderado. Por isso, a desaceleração poderia esperar:

¿ Até a próxima reunião, diversos indicadores (de inflação e atividade) vão ser conhecidos e a expectativa é de que virão bem. Por isso, continuo projetando corte de 0,75 ponto ¿ disse o economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa.

Em relatório para clientes, o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, afirma que, como não há pressões relevantes sobre a inflação e a economia, o processo de flexibilização não deve ser interrompido tão rapidamente, apenas conduzido em ritmo mais lento. E mantém a expectativa de que a Selic feche o ano a 14%.

Já Ricardo Amorim, chefe de pesquisa para a América Latina do WestLB em Nova York, mostrou-se surpreso com o tom da ata, que classificou de mais agressivo que o esperado, e reduziu sua projeção para o próximo corte de 0,75 para 0,5 ponto, mas manteve a expectativa de 14,5% para a Selic no fim do ano. Em relatório, ele destaca o fato de a ata ter mencionado, pela primeira vez, que a expansão dos gastos públicos pode pressionar a economia: ¿O ritmo atual dos gastos fiscais é um empecilho para o afrouxamento monetário¿.

Para o ex-diretor do BC Carlos Tadeu de Freitas, é prematuro dizer que há risco de inflação, inclusive para 2007. O mercado calcula alta de 3,5% do PIB este ano, o que pode subir:

¿ O BC vinha administrando as expectativas do mercado muito bem e, agora, o deixou dividido.