Título: IGP-M ACUMULADO EM 12 MESES TEM A PRIMEIRA DEFLAÇÃO DA SUA HISTÓRIA
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 28/04/2006, Economia, p. 30

Usado para reajustar aluguel, índice anual está em -0,92% graças a dólar e safra

Pela primeira vez na história do IGP-M, que começou a ser apurado em 1989, a taxa acumulada dos últimos 12 meses registrou deflação ¿ de 0,92%. Em abril, também houve queda de preços: o índice fechou em -0,42%, o menor desde setembro de 2005. Trata-se da segunda deflação consecutiva, e mais acentuada, já que em março a taxa fora de -0,23%. O IGP-M, divulgado ontem pela Fundação Getulio Vargas (FGV), é usado no reajuste de contratos de aluguel e das tarifas de energia elétrica.

¿ Essa taxa acumulada em 12 meses vem em queda desde dezembro de 2004. E deve haver nova deflação em maio. A menos que o IGP-M registre 0,71%, o que parece pouco provável. ¿ disse Salomão Quadros, economista da FGV.

Gripe aviária também favoreceu queda de preços

Câmbio favorável e período de safra explicam o desempenho dos preços em abril. Em especial no atacado, que recuou 0,77%. Os destaques foram soja (-4,09%), laranja (-19,45%) e óleos combustíveis (-6,15%). A gripe aviária também favoreceu a redução de preços ao provocar menos consumo de frango. Resultado: caíram os preços de aves (9,28%) e milho (8,31%).

¿ Ao contrário do que acontece no mundo, o país vive em deflação. Mas esse cenário é fortemente apoiado em safra agrícola e câmbio. É importante lembrar que quedas de preço tão fortes não se sustentam por muito tempo. O óleo combustível, por exemplo, deve registrar alta no mês que vem com a pressão no mercado internacional. Não aposto numa terceira deflação ¿ disse Quadros.

A deflação no atacado (responsável por 60% do IGP-M) não contagiou o varejo. O Índice de Preços ao Consumidor ¿ que responde por 30% da taxa geral ¿ subiu 0,22%, a mesma taxa apurada em março. O grupo de vestuário foi o que mais avançou, passando de -1,83% em março para 0,93% abril.

Economista: BC deve baixar juros para estabilizar dólar

No sentido inverso, o grupo de transportes baixou de 1,22% para 0,56%. E, no caso dos alimentos, o grupo registrou -0,06%, após 0,04% no mês anterior. Entre as maiores baixas para o consumidor estão a maçã (-20,03%) e o frango em pedaços (-5,68%).

Para o economista Carlos Tadheu de Freitas, o ¿IGP-M dá sinais de fraqueza¿ e, com isso, a inflação não sofre pressões de alta. Segundo ele, o IPCA de abril e maio deve fechar em 0,25% e, no fim do ano, fica em 4% ¿ abaixo do centro da meta do governo (4,5%).

¿ O que ameaça a inflação baixa é uma queda mais acentuada do dólar, o que levaria o mercado a especular e apostar numa alta da moeda. Para o dólar se estabilizar, o caminho é o Banco Central baixar os juros ¿ disse Freitas, para quem o BC deve, na próxima reunião do Copom, cortar a Taxa Selic (hoje em 15,75% ao ano) em 0,5 ponto percentual.