Título: VARIG GANHA EM NOVA YORK MAIS 1 MÊS DE FÔLEGO
Autor: Helena Celestino
Fonte: O Globo, 28/04/2006, Economia, p. 31

Corte de Falências de Manhattan garante à empresa proteção contra arresto de aviões e peças até o fim de maio

NOVA YORK. A Varig garantiu ontem na Corte de Falências de Manhattan que até o dia 31 de maio seus aviões continuarão pousando nos aeroportos americanos sem correr o risco de apreensão por parte dos credores. A nova liminar proibindo o arresto, de 33 dias, foi concedida pelo juiz Robert Drain, mas pode ser encurtada se a Corte da Flórida der ganho de causa a uma ação da Willis, pedindo o arresto de uma turbina alugada à empresa brasileira, e a uma da Missoui, que quer recuperar a posse de seus dois Boeings.

¿ Se a juíza da Flórida tomar uma decisão diferente da minha, anteciparemos a próxima audiência marcada para o dia 31 ¿ disse o juiz.

A decisão foi considerada a melhor possível pelos advogados da Varig, pois eles temiam que o juiz perdesse a paciência e autorizasse a apreensão dos aviões. Chamado para testemunhar sobre a situação da empresa, o especialista em gerenciamento de crise Luis de Lucio confirmou que existe um plano B de recuperação da empresa, com a cisão da companhia aérea em duas.

Especialista diz que já há 4 grupos interessados na Varig

Segundo ele, quatro grupos já se mostraram seriamente interessados em comprar a chamada Nova Varig, que seria criada para operar as linhas domésticas, livre de dívidas mas recebendo parte dos aviões em operação e dos funcionários atuais, além da carteira de clientes e da marca.

Numa primeira avaliação, essa parte saudável poderia ser leiloada por um valor entre US$500 milhões e US$600 milhões, recursos a serem injetados na outra parte da Varig, que passaria a operar as linhas internacionais e ficaria com o passivo.

¿ Uma instituição financeira já se comprometeu a fazer um empréstimo-ponte de US$100 milhões e garantir a fase de transição. Não posso revelar o nome, mas não é o BNDES, não estou negociando com a ministra Dilma Rousseff (chefe da Casa Civil) ¿ disse De Lucio, diretor da Alvarez & Marsal, consultoria que desde março trabalha com a Varig.

Empresas de ¿leasing¿ ficam irritadas com decisão

Segundo ele, esse plano apenas começou a ser desenhado e só será executado se as negociações chegarem a algum impasse. Mas o novo plano não diminuiu a irritação dos representantes das nove empresas de aluguel de aviões e turbinas que foram à audiência e, por unanimidade, reivindicaram a recuperação de seus bens em posse da Varig.

¿ A Varig é obrigada por lei a devolver nossos dois aviões e sete das nove turbinas alugadas e com contratos vencidos. Mesmo que paguem não queremos mais trabalhar com essa empresa ¿ disse William J. Rochelle III, advogado do escritório Fullbright&Jaworskiup e representante da Willis e da Missoui, às quais a Varig deve respectivamente US$900 mil e US$2 milhões.

Depois da saraivada de reclamações, o juiz pareceu que ia ceder aos credores. Ao saber que o comprador da Varig não seria obrigado a dar conta das peças retiradas dos aviões parados no solo e instaladas nas aeronaves em operação, o juiz disse que poderia autorizar o arresto dos bens dos credores que não concordassem com a negociação em curso.

¿ Isso colocaria a Varig numa situação crítica ¿ rebateu o advogado da empresa.

Robert Drain recuou, mas reclamou que o plano de recuperação traz poucos benefícios aos proprietários de aviões e peças. Acha que ainda pode ser melhorado e, por isso, deu mais um período de fôlego para a Varig.

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