Título: PROCURA-SE UM CANDIDATO
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 28/04/2006, O Mundo, p. 34

Oposição venezuelana busca nome de consenso para enfrentar Chávez nas urnas

Faltam pouco mais de sete meses para o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, enfrentar um novo teste eleitoral. Cientes da fortaleza de seu adversário, os opositores do polêmico mandatário venezuelano estão diante de um difícil desafio: escolher um candidato único que represente a oposição nas eleições presidenciais do próximo dia 3 de dezembro. O debate já começou e a decisão, até agora, envolve três nomes: o economista, jornalista, ex-guerrilheiro e fundador do Movimento ao Socialismo (MAS), Teodoro Petkoff; o deputado Julio Borges, do partido Primeiro Justiça; e o governador do estado de Zulia, Manuel Rosales.

Os três se reuniram recentemente em Maracaibo para iniciar uma negociação cujo desfecho ainda é incerto. Segundo analistas locais ouvidos pelo GLOBO, existem fortes divergências entre os opositores. Alguns setores ainda defendem o boicote eleitoral como única maneira de impedir que uma vitória de Chávez possa ter a legitimidade democrática necessária para obter respaldo da comunidade internacional.

¿ A oposição ainda está muito enfraquecida e parece difícil pensar numa candidatura única quando ainda persistem muitos conflitos internos. Ao mesmo tempo, os chavistas têm o controle do Estado e dos recursos, que graças ao petróleo são milionários ¿ afirmou o professor Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela, referindo-se aos estimados US$4,5 bilhões que o governo destinará este ano a programas sociais. ¿ O máximo que teremos são alianças entre candidatos.

Popularidade de Chávez hoje está em 43%

Pesquisas realizadas por empresas de consultoria locais mostraram que nenhum dos possíveis rivais de Chávez supera 15% das intenções de voto. De acordo com um estudo da Hinterlaces, se a eleição fosse hoje o presidente seria reeleito com 39% dos votos. Borges ficaria em segundo lugar, com 13%, Petkoff em terceiro, com 11%, e Rosales em quarto, com 7%. Detalhe: 40% dos entrevistados se disseram indecisos.

¿ Petkoff cresceu muito nos últimos dias, desde que lançou sua candidatura. Antes tinha apenas 2% das intenções de voto. Mas o mais importante no atual panorama eleitoral é entender que 50% da população não se sentem chavistas nem antichavistas, o que torna o cenário ainda mais confuso ¿ explicou o diretor da Hinterlaces, Oscar Schémel.

Na visão do analista, a liderança de Chávez ¿é tão sólida e tão frágil como o vidro¿.

¿ Estamos observando um progressivo processo de aumento da insatisfação. Muitas pessoas estão de acordo com o discurso de Chávez, acham que o presidente tem boas intenções, mas se queixam de falhas na implementação de medidas e da falta de resultados. A rejeição ao Ministério subiu para 67% ¿ enfatizou Schémel.

A popularidade do presidente atinge atualmente 43% e ninguém discute que Chávez é o grande favorito da próxima eleição. No entanto, alertam os analistas venezuelanos, o respaldo ao presidente já não é o que era antes.

¿ Hoje o apoio a Chávez se sustenta, basicamente, em programas sociais que são paliativos, pois não resolvem os problemas estruturais do país. Os pobres recebem migalhas e vão exigir mais ajuda para continuarem votando no presidente ¿ disse o diretor da Hinterlaces.

Na visão de Schémel, Chávez não representa o que ele identifica como as principais demandas dos venezuelanos: união, ordem institucional, eficiência administrativa e resgate de valores essenciais, como a transparência.

¿ O que o presidente, sim, representa é a esperança de uma sociedade mais igualitária ¿ afirmou o analista.

Diante do cenário ainda incerto entre os opositores, o governo chavista se mostra confiante. Perguntado sobre a reunião entre os três possíveis candidatos da oposição, o vice-presidente José Vicente Rangel respondeu em tom irônico.

¿ Se a oposição estiver disposta a encarar o caminho democrático, acho excelente. Porque senão essa foto seria como a de três tristes tigres ¿ brincou o vice-presidente.

O calcanhar de Aquiles da oposição continua sendo seu apoio ao golpe de Estado de abril de 2002, que pôs no poder o empresário Pedro Carmona por apenas 48 horas e nesse pequeno espaço de tempo até fechou o Congresso Nacional. E os chavistas sabem bem disso.

¿ Rosales assinou a ata de designação do governo de Carmona . O partido de Borges teve até um ministro nesse gabinete e Petkoff escreveu um insólito editorial no dia 12 de abril de 2002 intitulado: ¿Tchau, Chávez¿. Foi vergonhoso ¿ alfinetou Rangel.