Título: BLAIR TENTA RESISTIR A MARÉ DE ESCÂNDALOS
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 28/04/2006, O Mundo, p. 36

Ministro do Interior admite que criminosos foram libertados e vice-premier é flagrado em boate com a secretária

LONDRES. Não bastassem os problemas que enfrenta com a queda vertiginosa de sua popularidade devido à oposição à guerra no Iraque e a denúncias de nomeações para a Câmara dos Lordes de empresários que financiaram sua campanha nas eleições de 2005, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, ainda precisa apagar incêndios provocados pelo Gabinete. Estes incluem erros na libertação de prisioneiros pela Justiça, uma rebelião de funcionários da rede de saúde e um bizarro caso de adultério de um de seus principais aliados. Os jornais britânicos falavam ontem numa implosão do governo trabalhista, que já dura nove anos.

Foi uma quarta-feira de pesadelo. A ministra da Indústria e Comércio, Patrícia Hewitt, foi vaiada durante um discurso no Royal College of Nursing, uma das principais instituições de enfermagem do Reino Unido. Veio à tona uma denúncia de que o ministro do Interior, Charles Clarke, fez vista grossa para uma série de erros na libertação de criminosos estrangeiros. E o tablóide ¿Daily Mirror¿publicou uma série de fotos do vice-premier, John Prescott, divertindo-se com uma secretária numa boate. As imagens lembravam filmes antigos de John Travolta.

Prescott não só tem um casamento de 45 anos como é umas das figuras mais conhecidas do Partido Trabalhista. Um caso de adultério certamente não é boa publicidade às vésperas das eleições locais de 4 de maio. O eleitorado tampouco deverá gostar de sua trapalhada ao admitir que desde julho do ano passado 288 prisioneiros estrangeiros ¿ incluindo estupradores e pedófilos ¿ foram libertados e escaparam da deportação.

No mês passado, houve ainda o caso da ministra da Cultura, Tessa Jowell, envolvida na denúncia de que seu marido, o advogado David Mills, foi subornado para testemunhar a favor do primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi, num processo de corrupção em 1997.

Líder conservador faz críticas no Parlamento

Blair tem defendido seus ministros, a ponto de recusar um pedido de demissão de Clarke. A oposição, porém, não quer perder a oportunidade de causar mais danos à imagem do premier, cuja popularidade é a mais baixa em seus 12 anos como líder trabalhista. Segunda-feira, uma pesquisa do instituto ICM indicou que seu partido atingiu o ponto mais baixo de intenções de voto desde 1987. Foi munição de sobra para o líder do Partido Conservador, David Cameron, atacar Blair no debate semanal do Parlamento, anteontem:

¿ O senhor Blair está se mantendo fiel aos seus ministros incompetentes. Eu gostaria de saber quando é que ele vai começar a proteger o povo.

Há tempos Blair já não é unanimidade nem mesmo nas fileiras trabalhistas, onde é crescente a pressão para que renuncie em favor do ministro das Finanças, Gordon Brown. Com Brown, o partido espera juntar os cacos e evitar uma derrota nas eleições gerais, em 2009 ou 2010. Blair já disse que não tentará um quarto mandato, mas reluta em deixar o cargo antes de consolidar reformas como a educacional e a do sistema de saúde e previdência social.

¿ Acho que todos me conhecem bem o suficiente para saber que meu governo tem perseverança para enfrentar momentos de crise ¿ disse ele ontem numa entrevista à BBC em que confirmou a permanência de Clarke, Prescott e Hewitt em seus cargos.