Título: CENAS DE CONSTERNAÇÃO PELA PORTA DE VIDRO
Autor: Maria Lima e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 02/05/2006, O País, p. 3

Garotinho passa o dia em poses com a família e os amigos num sofá na sede do PMDB

Agarrado a um travesseiro a maior parte do tempo e sentado num sofá de costas para a porta de vidro que dá acesso à sala que escolheu como cenário de sua greve de fome, o pré-candidato do PMDB à Presidência Anthony Garotinho passou as primeiras 24 horas de seu protesto investindo num clima de consternação. Do lado de fora, repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e curiosos podiam observar todos os movimentos dele e de sua família, mas eram impedidos por seguranças de se aproximarem.

Durante todo o dia, parentes, correligionários, secretários e pastores conversaram e oraram com o pré-candidato. Antes, todos eram obrigados a assinar uma lista de presença, que, até o fim da tarde, apresentava 164 nomes. O livro estava posicionado estrategicamente em frente à porta da sala onde Garotinho se instalou. Em meio a conversas na sala da sede do PMDB, no Centro, ele bebia apenas água, ia ao banheiro e voltava ao sofá, acompanhado por sua mulher, a governadora Rosinha Garotinho. Em alguns momentos, ele chegou a se ausentar. Garotinho iniciou a greve de fome às 17h15m de domingo.

Mais um dia sem explicações

O candidato não falou com a imprensa. Só por volta das 18h15m, mais de uma hora depois do previsto, leu uma nota oficial de três páginas com novas críticas à imprensa, sem responder a perguntas e muito menos explicar as irregularidade na arrecadação de recursos de sua pré-campanha, motivos que geraram o protesto. O ex-governador enviou ainda a carta ¿À nação brasileira¿, publicada ontem pelo GLOBO, ao secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), embaixador José Miguel Musso Musulza, pedindo intervenção no processo eleitoral brasileiro e espaço na mídia para se defender.

Garotinho passou o dia acompanhado de seu médico particular, Abdu Neme. Segundo sua assessoria, ele passou a noite no sofá, sozinho, observado apenas por um segurança. Acordou às 7h, tomou banho e se submeteu a exames de sangue, urina e eletrocardiograma. No único boletim médico divulgado desde que iniciou o protesto, Neme atestou que Garotinho estava lúcido, sem febre, hidratado, com ritmo cardíaco regular e pressão arterial normal. Até 11h de ontem, havia perdido 700 gramas. Seu peso caiu para 89,9 quilos.

Pouco antes de meio-dia, após receber visitas de apoio, dirigentes do PMDB fluminense decidiram que o pré-candidato seria poupado de novas visitas para descansar. Todos que chegavam para prestar solidariedade a Garotinho somente o podiam observar pelo vidro da porta. Políticos de seu partido apareceram pouco antes das 8h. A filha mais velha do casal, Clarissa Matheus, foi a primeira parente a chegar na sede do PMDB, por volta de 9h50m. Rosinha chegou ao meio-dia acompanhada de sete dos nove filhos.

Depois da saída dos filhos ela retornou à sala onde estava Garotinho. Com o mesmo jeito abatido da véspera, Rosinha fazia afagos no rosto do candidato, que permaneceu deitado. Num dado momento, a governadora fez as vezes de secretária do marido, pegando lápis e papel para anotar algumas palavras ditadas por ele.

No oitavo andar do prédio onde fica a sede regional do PMDB, na Avenida Almirante Barroso, no Centro do Rio, a ordem ontem era para que nenhuma espécie de alimento entrasse. Parentes, amigos e integrantes do PMDB eram proibidos de entrar com comida no local. No diretório, apenas cafezinho e água eram servidos a quem estava nos corredores acompanhando Garotinho do lado de fora da porta de vidro que emoldura as cenas do protesto.

A ÍNTEGRA DA NOVA NOTA DE GAROTINHO na página 4