Título: PMDB deixa Garotinho à míngua
Autor: Maria Lima e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 02/05/2006, O País, p. 3

Partido reprova greve de fome. Senador diz que protesto será longo, porque candidato é `muito robusto¿

Acúpula do PMDB reprovou a greve de fome iniciada no domingo pelo ex-governador Anthony Garotinho. Considerada um gesto extremo de desespero e fraqueza, a decisão foi recebida com surpresa no partido, que dá sinais de que não vai apoiar a iniciativa do pré-candidato a presidente de exigir fiscalização internacional nas eleições. O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), além de considerar a greve inadequada, fez questão de enfatizar que a atitude foi fruto de uma decisão isolada e unilateral.

¿ É uma atitude pessoal, unilateral. Não é um gesto do partido, tanto que não houve comunicação ao partido ou a mim. É uma questão de foro íntimo ¿ disse o presidente do PMDB, que em entrevista à Rádio CBN afirmou que a atitude de Garotinho não era ¿muito adequada¿.

As críticas mais fortes foram feitas por Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), ex-governador de Pernambuco e candidato ao Senado, que defendeu o cancelamento da candidatura de Garotinho.

¿ Além de denúncias com um conteúdo crescente de problemas, Garotinho está expondo o partido ao ridículo com essa história de greve de fome. Trata-se de um amontoado de denúncias, que reúne corrupção, atos ilegais e má prática política ¿ afirmou Jarbas, que vai propor uma reunião da executiva para avaliar a questão.

Temer disse que analisará a situação com os companheiros do partido. Segundo ele, embora a ala governista do PMDB tenha anunciado a intenção de apresentar um pedido para a realização de uma convenção partidária em maio, para discutir a candidatura própria, o pedido formal ainda não foi protocolado. E se for feito hoje, ele deverá convocar para esta semana uma reunião da executiva.

Entre ironias, integrantes da cúpula do PMDB chegaram a considerar que a greve de fome pode decretar o fim da candidatura, pois, além de não agregar mais apoios, vai minar os já existentes. Alguns líderes anteciparam o retorno a Brasília para hoje cedo para tratar do assunto.

¿ Isso aí não é um método que deve ser usado para que uma pessoa se torne candidata. Isso é tudo, menos uma manifestação de força. Ele quer que se tenha pena dele. Mas ninguém no PMDB vai ter pena de Garotinho. Mesmo porque ele é muito robusto e uma greve de fome não vai ter o efeito que ele espera tão cedo. É uma manifestação de fraqueza que não sensibiliza o partido ¿ disse o relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).

¿Nunca vi um cara tão ousado¿, diz senador

O senador Ney Suassuna (PB), líder do PMDB no Senado, concorda com Garibaldi. Ele disse que o partido não irá se sensibilizar ou se solidarizar com a iniciativa.

¿ Nunca vi um cara tão ousado. Ou ele se lasca de uma vez ou vira vítima. Foi uma jogada perigosíssima. Eu até agora não entendi a razão dessa resposta. Com o padre Luiz Flávio Cappio, lá no Rio São Francisco, deu certo. Com ele não sei se vai dar não. Não creio que o partido vá se sensibilizar. Não deve ter influência em sua candidatura ¿ disse Suassuna.

O deputado Moreira Franco (RJ) também disse que Garotinho não consultou o partido para tomar a decisão. Segundo ele, a proposta de supervisão internacional nas eleições só acontece em casos de extrema gravidade e quando o processo eleitoral já está em andamento.

¿ Pergunto-me se foi a decisão mais correta. As duas alternativas que ele propõe não dependem dele. Esta atitude deu poder muito grande a quem ele chama de adversário, os jornais ¿ disse Moreira.

Ontem, Garotinho contou apenas com apoio de políticos do Estado do Rio ligados ao ex-governador e secretários de governo que migraram de outros partidos junto com Garotinho para o PMDB. O economista Carlos Lessa também visitou o pré-candidato, mas disse que não faria uma greve de fome. Acrescentou, porém, que espera que a imprensa ceda ao pedido de reparação feito por Garotinho.

¿ Eu não faria uma greve de fome. Sou PMDB e apoio a candidatura do partido seja qual for o candidato ¿ disse.

No PMDB a situação de Garotinho é vista como muito delicada. As denúncias que estouraram na semana passada prejudicam a candidatura dele que já encontra muita resistência entre os diversos setores do partido. A greve de fome foi interpretada como o último recurso desesperado de Garotinho, que poderá ter sua candidatura à Presidência definitivamente enterrada no dia 13 pela convenção nacional do PMDB.

COLABORARAM: Adriana Vasconcelos, Ana Claudia Costa, Dimmi Amora e Pereira Júnior

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