Título: Lula ironiza jejum iniciado por Garotinho
Autor: Adauri Antunes Jailton de Carvalho e Isabel braga
Fonte: O Globo, 02/05/2006, O País, p. 4

Presidente, que já fez ato semelhante, diz que cada um protesta como quer. OAB e ANJ criticam peemedebista

SÃO PAULO E BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com ironia em São Bernardo do Campo (SP), ao comentar o protesto do ex-governador do Rio e pré-candidato do PMDB a presidente da República Anthony Garotinho. Lula disse que seria um ¿natimorto¿ se fosse entrar em greve de fome sempre que é criticado pela imprensa. A direção da Associação Nacional de Jornais (ANJ) e a Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro (OAB-RJ) condenaram a greve de fome.

¿ Se eu fosse entrar em greve de fome cada vez que a imprensa fala mal de mim eu seria natimorto ¿ disse Lula, ao sair da Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, onde participou da missa em homenagem ao trabalhador.

Ao comentar o pedido de Garotinho de um controle internacional das eleições, o presidente Lula disse que esse é o jogo democrático. Para o presidente, a imprensa cumpre um papel importante.

¿ Cada um protesta do jeito que quiser. Eu protesto da minha maneira. Acho que a imprensa cumpre papel importante na vida política do país, quando fala bem, quando fala mal. Não conheço ninguém que não reclama da imprensa, sou um que reclama demais da imprensa ¿ disse Lula, que também já fez greve de fome durante seis dias.

O protesto do então líder sindical, que estava na prisão em maio de 1980, teve o objetivo de forçar os patrões a retomar as negociações da campanha salarial com os metalúrgicos do ABC.

Geraldo Alckmin disse que espera pelo PMDB

O pré-candidato tucano Geraldo Alckmin ainda acredita na possibilidade de firmar acordo com o PMDB e disse esperar a definição de candidatura do partido ao comentar a atitude do ex-governador do Rio:

¿ Temos que respeitar sua posição. Respeito todos os meus adversários. Torço pela sua saúde e espero que ele, rapidamente, volte para a atividade política. Nós esperamos o PMDB e vamos esperar as definições do partido.

O diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Fernando Martins, criticou duramente a atitude de Anthony Garotinho e cobrou explicações sobre as irregularidades na arrecadação de recursos de sua pré-campanha:

¿ Ele está querendo desviar a atenção do verdadeiro problema. Quer jogar um manto sobre o escândalo, está criando um factóide pra sair de vítima dessa história.

Presidente da OAB cobra explicações de denúncias

Para o presidente da ANJ, as instituições democráticas estão em pleno funcionamento. Portanto, não há necessidade de se submeter o processo eleitoral a uma fiscalização internacional, como pede o ex-governador. Martins sustentou que são falsos os argumentos de ex-governador Garotinho que a imprensa está tentando prejudicá-lo.

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) do Rio de Janeiro, Otávio Gomes, classificou de ¿esdrúxula¿ a greve de fome. Segundo Gomes, o país passa, de fato, por uma crise moral, mas nada que justifique uma supervisão internacional. Para ele, o problema é a disseminação da corrupção e não o desrespeito a direitos políticos. Gomes disse ainda que a imprensa tem o dever de noticiar as transações financeiras da pré-campanha eleitoral

¿ Ao invés de fazer greve de fome, ele deveria abrir a boca e se explicar sobre as denúncias ¿ disse Gomes.

O presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Maurício Azêdo, visitou ontem Garotinho e ouviu reclamações sobre a imprensa, mas afirmou que não vai intermediar qualquer conversa entre ele e os veículos de comunicação.

¿ O ideal é que esse problema tenha um desfecho sem injustiças de lado a lado. Não apoiaremos, nem contestaremos as acusações. Os meios de comunicação, no entanto, tendem a acusar de forma desmedida e ao dar o direito de resposta, o espaço reservado é mínimo ¿ disse Azêdo.

O ministro Marco Aurélio Mello, que assume a presidência do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na quinta-feira, evitou comentários sobre o caso. Para ele, ao anunciar a decisão de fazer greve de fome e pedir o acompanhamento do processo político-partidário, Garotinho preservou a Justiça Eleitoral e centrou suas críticas no período pré-campanha.