Título: DIRCEU E OUTROS MENSALEIROS PARTICIPAM
Autor: Ricardo Galhardo e Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 29/04/2006, O País, p. 13

Também Ângela Guadagnin, a sambista da pizza, discutia rumos do PT

SÃO PAULO. O clima de harmonia na abertura do Encontro Nacional do PT ontem, com o presidente Lula aclamado para a reeleição e o vice, José Alencar (PP), aplaudido de pé, não se repetiu nos bastidores da direção nacional do partido. O ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, e o presidente nacional do PT, Ricardo Berzoini, manifestaram posições divergentes sobre a política de alianças para a campanha eleitoral.

As tentativas de alguns grupos de punir os mensaleiros internamente e a presença de ex-dirigentes indiciados como responsáveis pelo mensalão, como o ex-ministro José Dirceu, e petistas como a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), punida pela Mesa por dançar em plenário, causaram constrangimento na abertura.

Vários indiciados na denúncia do Procuradoria-Geral da República participaram do encontro. O deputado João Paulo Cunha reclamou da tentativa da esquerda do partido de reabrir o caso internamente.

¿ Já fui punido e espero que o meu partido não torne a me submeter a isso. Estou num processo de convencimento da sociedade ¿ disse o deputado, que é candidato à reeleição.

Estiveram no encontro o deputado cassado José Dirceu, os deputados Professor Luizinho e Josias Gomes, o ex-deputado Paulo Rocha, que renunciou, e o irmão de José Genoino, deputado estadual do Ceará José Nobre Guimarães, cujo assessor foi preso no aeroporto de Congonhas com US$100 mil na cueca e R$200 mil na mala.

Até o advogado Roberto Teixeira, compadre de Lula, foi visto na quadra do Sindicato dos Bancários, onde acontece o encontro. O senador Eduardo Suplicy (SP), defendeu a presença de Dirceu:

¿ O José Dirceu não saiu da vida partidária.

O secretário-geral da Presidência, Luiz Dulci, defendeu a presença dos mensaleiros:

¿ Estão exercendo um direito que a democracia dá. Não vejo problema, pelo contrário.

Alguns delegados do partido chegaram a gritar da platéia para que Dirceu fosse convidado a fazer parte da mesa, ao lado de Lula. Dirceu, no entanto, não subiu à mesa onde ficaram os dirigentes petistas.

Berzoini defende definição imediata sobre alianças

A política de alianças será o mote da polêmica no encontro hoje, mas ontem os petistas ainda tentavam um consenso. Tarso é favorável a uma proposta intermediária, na qual o encontro definiria as linhas gerais, deixando o diretório nacional definir em outro momento com quais partidos se aliar.

Já Berzoini defendeu uma definição imediata, com os nomes das siglas para que o PT possa avançar nas coligações estaduais:

¿ Os partidos da base aliada do governo devem estar previstos (nos documentos aprovados pelo encontro). Os diretórios estaduais precisam dessa definição.

Além das posições defendidas por Tarso e Berzoini, a Democracia Socialista (DS), uma das principais correntes abrigadas no PT, defende uma terceira hipótese: que o partido restrinja as alianças aos partidos de esquerda (PSB e PC do B). Lula exige alianças mais amplas, incluindo o PMDB, PL e PTB.

Dulci evitou opinar sobre a divergência entre Tarso e Berzoini, mas descartou que as alianças ficarão restritas ao PSB e PC do B.

¿ Nosso governo é de centro-esquerda. É claro que queremos também alianças com os partidos de centro¿afirmou Dulci, citando o PMDB.

O secretário de Relações Internacionais do PT, Valter Pomar, líder da Articulação de Esquerda, defendeu a posição de Tarso. Segundo ele, é desnecessário discutir agora os nomes dos aliados, já que a decisão não cabe apenas ao PT.

¿ Além da eleição presidencial existem outras variáveis, como a cláusula de barreira e a verticalização ¿ disse Pomar.