Título: PRESIDENTE QUER DIPLOMACIA COM BOLÍVIA
Autor: Flávio Freire e Ronaldo D'Ercole
Fonte: O Globo, 29/04/2006, Economia, p. 29

Eike Batista já admite não deixar o país e quer conversar com Morales

SÃO PAULO. Enquanto o empresário Eike Batista cogitava ontem não retirar da Bolívia os investimentos de sua siderúrgica EBX, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendia as iniciativas do governo Evo Morales para melhorar a qualidade de vida do país e apelava para o uso da diplomacia na crise:

¿ A Bolívia vive uma situação de pobreza muito grande e é justo que o presidente da Bolívia defenda os interesses para melhorar a qualidade do de vida do seu povo. Mas quanto às divergências internacionais, podem ficar certos, sentaremos à mesa e resolveremos o problema.

Batista se disse disposto a rever sua decisão de deixar a Bolívia caso o governo Morales aceite conhecer melhor o projeto e concorde que a empresa continue a operar no país. Embora não tenha recebido qualquer comunicado oficial das autoridades bolivianas, Batista disse que sua decisão se deveu às declarações de Morales e de membros de seu gabinete contra as empresas estrangeiras que atuam na Bolívia.

O empresário reafirmou que a EBX cumpriu todos os trâmites legais antes de se instalar na Bolívia e estaria disposta a permanecer lá desde que o governo Morales estabelecesse condições de forma clara. Segundo Batista, a EBX coloca a Bolívia no mapa siderúrgico mundial, além de gerar seis mil empregos. Ele disse ainda ter total apoio da população e das autoridades da região em que a EBX está instalada. E se dispôs a atuar como consultor do governo boliviano na área industrial:

¿ Somos o maior investimento estrangeiro na Bolívia como indústria de transformação, não de mineração, que é tudo o que Morales queria para o país. Ele poderia nos usar como consultores, assessores internacionais. Mas hoje teria de haver um diálogo com ele pessoalmente.

Empresa só recuperaria parte dos investimentos

Batista disse ter enviado, na quinta-feira, um documento a autoridades do Planalto explicando detalhes do projeto da siderúrgica. Na hipótese de Morales decidir nacionalizar os ativos da EBX, Batista cobrou intervenção direta do governo brasileiro. Segundo Batista, se efetivamente deixar a Bolívia, será possível recuperar apenas US$40 milhões dos US$60 milhões já investidos no país.

Batista esteve ontem na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), que na véspera anunciara um ato em solidariedade ao empresário. No entanto, durante o Fórum de Negócios entre Brasil e Paraguai, o diretor do Departamento de Comércio Exterior da Fiesp, Roberto Giannetti da Fonseca, fez apenas uma vaga menção aos problemas na Bolívia.

Também presente no evento, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, não chegou a se encontrar com Batista. Perguntado sobre o impasse com a Bolívia, Furlan foi diplomático:

¿ O presidente Lula e o Itamaraty darão as necessárias declarações quando for o caso.