Título: ONU: IRÃ ACELEROU PROGRAMA NUCLEAR
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Fonte: O Globo, 29/04/2006, O Mundo, p. 32

Agência não descarta uso militar. EUA e Reino Unido buscam resolução contra Teerã

NOVA YORK e TEERÃ

OIrã não apenas ignorou o pedido feito mês passado pelo Conselho de Segurança da ONU para interromper seu programa nuclear como o acelerou. Um relatório divulgado ontem pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirma que o país está produzindo urânio enriquecido e, devido a limites impostos pelas autoridades iranianas a seus técnicos, não pode afirmar que o programa do país tem somente fins pacíficos.

O relatório, assinado pelo diretor da AIEA, Mohammed ElBaradei, provocou uma nova movimentação diplomática na ONU, com Estados Unidos e Reino Unido tentando convencer o restante dos membros do Conselho a aprovarem uma resolução que tornaria obrigatório ao Irã parar seu programa atômico. Tal resolução abriria a possibilidade de sanções e até mesmo de uma ação militar contra o país.

¿ É a hora de aumentar a pressão internacional sobre o Irã, para mostrar como está isolado ¿ disse o embaixador americano na ONU, John Bolton. ¿ Eles têm que cumprir (as determinações da ONU) ou o Conselho está preparado para tomar outras medidas. Caso contrário, ações podem ser tomadas dentro ou fora do Conselho.

O relatório de oito páginas afirma que várias declarações do presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, feitas nas últimas semanas, e consideradas meras bravatas por muitos, eram verdadeiras. O país já enriqueceu urânio ao nível de 3,6% e construiu uma potente centrífuga de 164 cascatas. Além disso, está terminando a construção de outras duas.

Este material poderia ter uso civil. A AIEA, porém, disse que não tem como fazer tal afirmação. Segundo ElBaradei, os técnicos não puderam visitar alguns locais, não foram informados sobre a participação de militares no programa e não tiveram respondidas muitas perguntas.

O presidente dos EUA, George W. Bush, diferentemente de seus diplomatas, evitou usar termos fortes ontem. Para Bush, o relatório significa apenas o ¿começo da diplomacia.¿

¿ Isso lembra o Irã que o mundo está unido e preocupado não apenas pelo desejo de que ele não tenha uma arma nuclear, como a capacidade e o conhecimento de como se fazer uma arma nuclear. Por tudo isso estamos tentando convencê-los a não tentar fazer isso ¿ disse Bush.

China não quer discutir sanções

O Reino Unido levará ao Conselho uma proposta de resolução semana que vem. O país quer que a resolução se baseie no capítulo 7 da Carta da ONU, que tornaria seu cumprimento obrigatório. O mesmo capítulo abre a possibilidade de sanções variadas e até uma invasão militar, mas estas ações teriam de ser validadas por uma outra resolução do Conselho.

Nos EUA, o subsecretário de Estado, Nicholas Burns, afirmou que o relatório da AIEA prova que o Irã é um ¿fora da lei internacional¿.

¿ Os países que têm relações econômicas que acabam sustentando o Irã, inclusive com exportações de tecnologia de uso duplo (civil e militar), devem interrompê-las ¿ disse Burns.

A pressão americana direta sobre o Irã é limitada, pois Washington já mantém sanções contra o Irã desde a Revolução Islâmica, em 1979.

A China avisou ontem que não aceitará a aplicação do capítulo 7.

¿ Há vários problemas na região e não devemos fazer qualquer coisa que faça a situação ficar ainda mais complicada ¿ disse o embaixador chinês na ONU, Wang Guangya. ¿ Sempre que o capítulo 7 é invocado, isto não é o fim das resoluções. Seria apenas o início de uma série de resoluções.

O presidente do Irã, no entanto, horas antes da divulgação do relatório, já afirmava que não aceitaria qualquer ordem do Conselho:

¿ Aqueles que querem evitar que os iranianos obtenham o seu direito devem saber que nós não damos a mínima para tais resoluções.