Título: PROFESSORES SOFREM CAMPANHA DE EXTERMÍNIO NO IRAQUE
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Fonte: O Globo, 29/04/2006, O Mundo, p. 32

Já foram mortos 180 educadores de universidades e milhares fugiram. Profissionais de saúde também são alvos

MADRI. Cerca de 180 professores universitários iraquianos foram assassinados desde o início da ocupação do país, em 2003, segundo informou a Associação de Professores do Iraque, o que a Unesco (organização da ONU para educação, ciência e cultura) confirmou. A campanha de assassinatos atinge também o pessoal de saúde ¿ cerca de 220 pessoas ligadas ao Ministério da Saúde foram mortas. Profissionais das duas áreas estão recebendo ameaças e milhares deixaram o país.

¿ No momento não posso, porque tenho compromissos com meus estudantes, mas para ser sincero, vou embora do Iraque quando surgir uma oportunidade ¿ disse Ali Abdulah, professor da genética molecular da Universidade de Bagdá que teve dezenas de colegas e alguns amigos assassinados.

Os assassinatos são precedidos de ameaças em cartas com um bala dentro do envelope, explicou Abdulah. O número de refugiados é de aproximadamente 2.500, segundo organizadores da Campanha Estatal contra a Ocupação e pela Soberania do Iraque, que semana passada reuniu em Madri dezenas de especialistas de oito países para um encontro sobre o tema ¿Uma guerra para manchar a cultura e o futuro dos iraquianos¿.

Abdulah descreveu como ¿completamente degradada¿ a situação da educação iraquiana ¿ durante muito tempo considerada uma das melhores do Oriente Médio. Grande parte das universidades foi incendiada ou saqueada. Segundo ele, ninguém pode proteger os professores porque ¿não se sabe quem os está atacando¿. Mas Iman Jamas, jornalista e professora da Universidade de Bagdá, assinalou que os autores dos crimes são milícias paramilitares e responsabilizou as forças ocupantes pela situação vulnerável, já que são responsáveis pela segurança

¿ Estamos perdendo 20 ou 30 anos de formação ¿ disse.

Vice-presidente do Iraque, Adel Abdul Mahdi afirmou ontem que cem mil famílias ¿ possivelmente cerca de 500 mil pessoas ¿ estão vivendo como refugiadas devido à violência sectária no país.

¿ Temos famílias deslocadas, tanto de sunitas quanto de xiitas, e esta situação é inaceitável. O problema dos refugiados atinge cem mil famílias. Mais de 90% delas são de xiitas ¿ disse Mahdi.

Forças americanas e iraquianas mataram ontem, em Samarra, Humadi al-Takhi, um dirigente da al-Qaeda. Já a cidade de Baquba ficou sob toque de recolher diurno, um dia depois de 30 pessoas morrerem numa batalha em que policiais e soldados enfrentaram cerca de cem rebeldes.

Com agências internacionais