Título: COLÔMBIA: IRMÃ DE EX-PRESIDENTE É ASSASSINADA
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Fonte: O Globo, 29/04/2006, O Mundo, p. 33

Morte de Liliana Gaviria afeta campanha presidencial. Uribe diz que sente culpa e vergonha e oferece recompensa

BOGOTÁ. A um mês das eleições presidenciais, o assassinato da irmã do ex-presidente da Colômbia e ex-secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA) César Gaviria, na noite de quinta-feira, gera temores de que o crime tenha conotações políticas e possa afetar a campanha eleitoral.

Liliana Gaviria, de 59 anos, foi assassinada durante uma tentativa de seqüestro que resultou na morte também do policial que fazia sua segurança. Um grupo de homens armados a interceptaram quando chegava a sua casa nos arredores de Pereira, capital do departamento de Risaralda, a 175 quilômetros de Bogotá. Não se sabe se o disparo, que atingiu o coração, foi feito no momento do seqüestro ou depois. O corpo foi abandonado alguns quilômetros adiante.

O presidente Alvaro Uribe, que tenta a reeleição, disse sentir ¿certa culpa¿ por não poder conter a criminalidade no país:

¿ Cada vez que assassinam um colombiano sinto vergonha ¿ disse o presidente.

Governo oferece US$420 mil por informações

Embora o governo e a polícia não tenham responsabilizado nenhuma organização, os candidatos disseram que o crime afeta a campanha. Liliana era dona de uma empresa imobiliária e não tinha atuação política, mas seu irmão é o presidente do Partido Liberal, de oposição, cujo candidato, Horacio Serpa, está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.

¿ Preocupam-me os crimes que salpicam de sangue a atual campanha política, provocam incerteza e evidenciam a falta de garantias ¿ disse Serpa.

Outros candidatos também ligaram o crime ao momento político que o país atravessa, como Carlos Gaviria, do partido Pólo Democrático Alternativo (PDA) e que não tem parentesco com a vítima.

Uribe reagiu rápido: ofereceu uma recompensa de US$420 mil por informações que levem à captura dos criminosos, pediu a mobilização da população e viajou para a região para assumir a coordenação das investigações.

¿ Se este é um desafio à sociedade colombiana, o governo apelará a todos os instrumentos constitucionais para enfrentá-lo ¿ disse Uribe, que se referiu aos criminosos como ¿terroristas¿.

Fontes dos serviços de segurança admitem a possibilidade de que a guerrilha ou os paramilitares estejam envolvidos no crime para desestabilizar a campanha. Mas a polícia também analisa a possibilidade de que seja um crime comum, já que Risaralda tem uma das mais altas taxas de criminalidade do país.

Não é a primeira vez que a família de Gaviria ¿ que foi presidente de 1990 a 1994 e exerceu dois mandatos na OEA ¿ é alvo da violência. Seu irmão Juan Carlos foi seqüestrado em 1996 pelo grupo rebelde Jega e passou 70 dias como refém.

Um jornal ao qual a família de Gaviria é ligada denunciou que o governo havia retirado a proteção a Liliana. As autoridades, entretanto, negam.

Gustavo Petro, dirigente do PDA, acusou ¿a máfia que negocia com o presidente¿ de ser responsável pelo crime, respondendo ¿com terror contra quem levanta a voz contra a transação com o narcotráfico¿.

Os colombianos vão às urnas em 28 de maio. E pela primeira vez um presidente pode concorrer à reeleição no cargo. A segurança é o programa-símbolo de Uribe, que é o favorito segundo as pesquisas.