Título: PT SÓ VAI INVESTIGAR MENSALEIROS APÓS ELEIÇÕES
Autor: Soraya Aggege, Ricardo Galhardo e Tatiana Farah
Fonte: O Globo, 01/05/2006, O País, p. 5

Presidente do partido, Berzoini afirma que não haverá punições e que `essa história do mensalão é uma ficção¿

SÃO PAULO. A investigação interna sobre os parlamentares petistas acusados no escândalo do mensalão, com o compromisso de punir rigorosamente os corruptos ¿ medida aprovada sábado durante o Encontro Nacional do PT ¿ acabou em pizza. Pelo menos até o fim da campanha pela reeleição do presidente Lula. O encontro terminou ontem com um reconhecimento dos erros do partido e da necessidade de punição dos responsáveis, mas ponderou que o assunto só deverá voltar à pauta interna depois das eleições, para evitar que o processo acabe manipulado pela oposição. Petistas acusados de envolvimento no mensalão comemoraram a decisão no fim do encontro.

Em tese, as apurações seriam feitas após as eleições, mas o presidente nacional do PT, deputado federal Ricardo Berzoini (SP), já adiantou ontem que não haverá punições, mas sim mudanças estruturais no partido. E frisou que o PT não vai apurar responsabilidades individuais:

¿ A prioridade agora é reeleger o presidente Lula. Depois veremos isso (de apuração) com calma. E essa história do mensalão é uma ficção. O que houve foi financiamento de campanhas e dívidas de campanhas. Não faremos caça às bruxas só para nos desgastar e dar munição à oposição. Nós já estamos corrigindo os nossos erros.

Na prática, a medida atende a uma sugestão do presidente Lula, que disse na abertura do encontro, na sexta-feira:

¿Temos que levantar a cabeça. Não podemos permitir que os setores mais conservadores venham falar de nós. Na dúvida (o acusado) é nosso companheiro).

Assim, a polêmica poderá até voltar à tona na direção nacional, mas apenas em dezembro, durante o a reunião do diretório nacional que preparará o 3º Congresso Nacional.

Alguns setores minoritários do partido ficaram descontentes com a decisão sobre os mensaleiros, e prometem tentar articulações internas para reacender a polêmica. Mas o encontro é instância máxima do PT.

Os deputados José Mentor (PT-SP) e Professor Luizinho (PT-SP), únicos mensaleiros presentes no encerramento do encontro, comemoraram o resultado.

¿ É a mesma posição que tinha até agora. Essa decisão não muda em nada o que já estava decidido¿ disse Mentor.

¿ Nunca senti tanta solidariedade como estou sentindo aqui. Agora acabou a disputa política, acabou a baixaria¿ afirmou Luizinho.

A ¿pizza¿ petista foi acertada em um acordo entre correntes e articuladores regionais independentes. O secretário nacional de finanças do PT, Paulo Ferreira, antes mesmo da aprovação da resolução que pede um ¿calendário¿ de apurações ao diretório nacional, já declarava que o partido não deve investigar mais os parlamentares:

¿ Não aceitamos a tese de que os parlamentares se envolveram em corrupção. O que foi feito por eles foi uso do dinheiro levantado por caixa dois.

Correntes consideradas de esquerda, como a Articulação de Esquerda, aderiram:

¿ Essa questão não é central na vida do PT neste momento. Não vamos adotar uma atitude ingênua. Nossa prioridade é a eleição.

Na opinião do ministro Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência), as punições já foram feitas.

¿ O partido já abriu sindicância, puniu dirigentes, renovou sua direção. Agora, tem de fazer procedimentos para que isso, o caixa dois, não se repita.

Perguntado se o partido estava preparado para a campanha de 2006 sem fazer caixa dois, o ministro disse:

¿ Na maior parte da história do PT e em diversas regiões do país, o partido faz campanha dentro da lei, sem caixa dois. Isso é possível de ser feito e deve ser feito.

Já o secretário-geral do PT, Raul Pont, da Democracia Socialista, prometeu que vai cobrar do diretório nacional, no próximo encontro, em maio, a abertura das investigações dos parlamentares petistas.

¿ Deixar para depois das eleições é um tiro no pé.

(*) *Especial para O Globo