Título: Torniquete fatal
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Fonte: O Globo, 01/05/2006, Opinião, p. 6

A economia brasileira tem crescido abaixo da média mundial nos últimos anos, mas se fossem considerados apenas os números do comércio exterior, o desempenho do país poderia ser equiparado ao dos chamados tigres asiáticos.

O impulso nas exportações foi consequência, sobretudo, de uma combinação de mercado internacional favorável e câmbio flutuante. Mas a manutenção de um ritmo de crescimento acelerado no comércio exterior dependerá, a partir de agora, de uma melhora substancial em todo o sistema logístico. Nos meios de transporte, a situação é quase dramática nas rodovias não privatizadas. Não fossem as ferrovias estarem operando a pleno vapor, o escoamento da produção em direção aos portos poderia ter se complicado ainda mais.

Já no caso dos portos, a lei de modernização possibilitou uma mudança radical no setor. Em grande parte sob operação privada, os terminais portuários hoje competem entre si pela prestação de serviços, o que gerou maior eficiência e redução de custos.

No entanto, novos ganhos de produtividade estão condicionados a investimentos que não têm sido feitos. Vários portos ¿ entre os quais o do Rio ¿ dependem de dragagem (cuja responsabilidade é governamental) para permitir que navios com maior calado, ou transportando mais carga, possam passar pelos canais de acesso aos terminais. Do mesmo modo, são necessárias obras nos acessos por terra aos principais portos, para que caminhões e trens se movimentem com mais facilidade.

Portos são o começo ou o fim da cadeia logística do comércio exterior. Pode-se conviver com alguns gargalos nos modais terrestres e fluviais, direcionando o escoamento da produção de um para outro, mas tudo desemboca nos portos. Neste sentido, o gargalo nos portos é o mais angustiante. O Brasil precisará da combinação de investimentos públicos e privados para que esse torniquete não impeça o país de crescer.