Título: Dilma, o gasto e a campanha
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 30/04/2006, O GLOBO, p. 2

A ministra Dilma Rousseff assumiu a chefia do Gabinete Civil no pior momento do governo Lula e com um estilo inteiramente oposto ao de seu antecessor José Dirceu: discreta, recolhida e avessa ao confronto explícito. Fala pouco e aparece menos ainda mas não há dúvida de que se tornou, nestes meses de crise, a voz mais ouvida pelo presidente Lula na tomada de decisões.

Na semana passada houve um grande alarido com o aumento do gasto público neste começo de ano eleitoral. Os números acabaram mostrando que o superávit de março ficou acima da meta de 4,25% do PIB. Mas tendo sido menor que o de março do ano passado, e obtido graças principalmente às estatais, a desconfiança continua. Deixando para o presidente a abordagem das divergências entre Banco Central e o Ministério da Fazenda sobre a taxa de juros, Dilma mostra a face política quando ataca a grita contra os gastos.

¿ Governo de gastança foi o de Fernando Henrique no primeiro mandato. O nosso não faz do equilíbrio fiscal um adorno, mas a essência, um instrumento do crescimento e da distribuição de renda. Esta discussão é pautada pela oposição, que não tem mais argumentos para tentar desqualificar os resultados econõmicos do governo.

É muito cômodo, diz ela, lançar desconfianças que só podem ser confirmadas ou desmentidas no futuro, mas que podem ser exploradas negativamente no presente. E o presente é um ano eleitoral. A desconfiança, agora lançada de três em três dias, diz ela, não é tão grosseira como as afirmações passadas de que Lula confiscaria a poupança ou permitiria a volta da hiperinflação. Mas o objetivo, arremata, é o mesmo: semear a insegurança.

No ano passado Dilma trombou com o então ministro Palocci combatendo a exorbitância do superávit e em defesa de maior espaço para os gastos. Agora, faz profissão de fé no superávit.

¿ Jamais um governo teve compromisso tão provado com o equilíbrio fiscal. Vou repetir o que disse o ministro Mantega: quem apostar em superávit menor que 4,25% do PIB este ano vai quebrar a cara.

O presidente Lula, diz ela, tem absoluta consciência de que o esforço fiscal e o controle da inflação são um patrimônio político que não irá comprometer por razões eleitorais.

¿ Em 2005, com os juros lá em cima, foi preciso fazer um esforço fiscal muito maior. Não é correto comparar a exigência daquela situação com a de hoje, com juros em queda. Temos a inflação dentro da meta, a economia se recuperando, o mercado interno exuberante, com o consumo em alta e comida muito barata. Não vamos aumentar a carga tributária mas o lucro das empresas vai engordar a arrecadação. Pelo flanco econômico a oposição não conseguirá atingir o governo.

Mas serão estes resultados suficientes para neutralizar a decepção com o governo no plano ético, depois de tantos escândalos?

Dilma não é dos que negam os problemas ou tentam reduzir a crise à luta política.

¿ Houve problemas graves, no partido e no governo. A população sabe disso mas a oposição está subestimando seu discernimento. A população também viu que o governo enfrentou a crise. Não acobertou, não deixou nada sem investigar, participou das investigações através da CGU e da Policia Federal e afastou quem precisava ser afastado. Vamos a outubro, a população decidirá.

Dilma está em Wahington, onde participará da Conferência das Américas, no Departamento de Estado, ao lado de Condoleeza Rice e outras autoridades dos EUA e demais países, depois de uma rodada de contatos empresariais.

Cabra cega

O caso do laranjal de Garotinho mostra o quanto é inócua a prestação de contas pela internet sem identificação dos doadores. Foi isso que os congressistas colocaram na nova regra eleitoral, mitigando a cobrança pela total transparência na rede. É verdade que Garotinho prestou contas do que nem é exigido, os gastos na pré-campanha. Mas se não tivesse indicado o nome das empresas doadoras, ninguém teria descoberto as conexões entre elas e as ONGs que receberam do Estado mais de R$200 milhões.

Aliás, é tempo de estender a exigência da prestação de contas à pré-campanha. Lula, no cargo, desfruta das facilidades que a emenda da reeleição instituiu. Mas o PT, que diz andar tão duro, tem gastado com encontros e outros preparativos. O candidato do PSDB já está com o pé na estrada. Ou melhor, cruzando os céus.

Porteira aberta

Itamar Franco não deve levar até o fim a postulação da candidatura presidencial. Quer mesmo é voltar a ser senador. Para isso, precisa da ajuda de Aécio Neves, a quem a maioria dos deputados e prefeitos do PMDB mineiro presta vassalagem. Com a candidatura de Garotinho atingida no casco, e Itamar engatando a ré, o PMDB está a um passo de livrar-se da candidatura própria.

LULA reclamou do vale-tudo da oposição. Na politica em geral está valendo todo tipo de golpe. Veja essa, recente. Certo governador, iniciando romance extra-conjugal, pretendia separar-se. Foi atropelado por um telefonema anônimo à sua mulher, que rodou a baiana. Ele fez uma quebra de sigilo telefônico e descobriu que a ligação partiu da casa de seu vice. A confusão ainda está grande.