Título: FAVORITISMO DE LULA NO NORDESTE ASSUSTA PSDB
Autor: Maria Lima e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 30/04/2006, O País, p. 9

Bolsa Família atende a 82,5% das famílias pobres da região e a meta do governo é chegar a 100% até junho

BRASÍLIA. Investimentos federais em programas assistenciais e obras bilionárias em quase todos os estados do Nordeste fazem da região hoje uma espécie de curral eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os aliados nordestinos do candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, estão atentos e temem que uma campanha agressiva contra Lula possa lhes tirar votos.

O desafio do PSDB será criar um contraponto aos resultados positivos do governo na região. O programa Bolsa Família, por exemplo, atende a 82,5% das famílias pobres do Nordeste e a meta é chegar aos 100% até junho. Pesquisa CNI/Ibope de março mostra que, na região, Lula tem 38% dos votos e Alckmin, 1%. A maioria, 45%, está indecisa.

¿ Tenho que manter a coerência e ter senso crítico, porque como relator da CPI dos Bingos vejo de perto o que acontece no governo. Mas se ele continuar com essa enorme popularidade, tenho que reconhecer que será muito difícil bater em Lula ¿ admite o senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).

No Ceará, presidente tem palanque forte

Outros trunfos de Lula na região são obras de infra-estrutura e reformas em aeroportos. Em Alagoas, onde o PT não concorre ao governo e quem lidera as pesquisas é o senador Teotônio Vilela Filho (PSDB-AL), em dobradinha com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), aliado de Lula, o programa Luz Para Todos atinge quase 100% da área rural.

O governo federal construiu ainda um novo presídio em Alagoas e está duplicando a BR-101, rota turística que liga Salvador a Natal. Diante desse quadro, os aliados de Teotônio sinalizaram que devem apoiar Lula.

¿ Lula é forte no Nordeste porque o povo o vê como um dos seus. O Alckmin pode comer buchada, botar chapéu de couro, cantar Asa Branca de trás pra frente que não vai conseguir reverter isso ¿ diz o ex-presidente da Petrobras e candidato a deputado por Sergipe José Eduardo Dutra (PT-SE).

No Ceará, além da popularidade de Lula, Alckmin enfrenta divergências entre aliados: o governador tucano Lúcio Alcântara e o presidente do PSDB, Tasso Jereissati. O senador criticou Lúcio recentemente em reunião do partido. Lúcio ameaçou não apoiar Alckmin se Tasso não voltasse a cumprimentá-lo.

Tasso aceitou lançar o governador à reeleição, para abafar a briga. Lá, Lula tem um palanque forte: o ex-ministro Ciro Gomes, candidato a deputado; seu irmão Cid Gomes, candidato ao governo; e o ex-ministro Eunício Oliveira, do PMDB, candidato ao Senado. Segundo Eunício, pesquisas indicam que Lula tem no Ceará mais de 60% dos votos.

¿ O povo não quer saber dessa conversa de corrupção. O escândalo da cueca aconteceu aqui, mas o povo quer saber é que tem água na porta e luz no pátio ¿ diz Eunício.

Os tucanos cearenses reconhecem as dificuldades.

¿ Apesar de estar fazendo muita coisa pelos pobres e ser visto como um companheiro que chegou ao poder, o governo Lula tem muitas deficiências. Vamos explorar isso ¿ diz Lúcio.

Aliados de Alckmin apostam no alto número de indecisos.

¿ No meu estado, vou desafiar o presidente Lula a mostrar o que fez ¿ diz o líder do PFL no Senado, Agripino Maia (RN), cotado para vice de Alckmin.

¿ O favoritismo de Lula no Nordeste tem como principal causa o desconhecimento de Alckmin ali. Isso será progressivamente resolvido ¿ aposta o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), coordenador da campanha.

Para Suassuna, presidente é imbatível na região

Alckmin é otimista:

¿ Vejo apenas uma avenida para crescer. Meu objetivo é dar passos sólidos, com confiança e consistência.

Mas para o líder do PMDB no Senado, Ney Suassuna (PB), Lula é praticamente imbatível:

¿ Esse apoio poderá crescer mais com a promessa de garantir aposentadoria para as donas de casa e leasing para a compra de caminhões. Lula será o grande eleitor no Nordeste, mas no Centro-Oeste, Norte e periferias de grandes centros urbanos.