Título: CUT perde e Força ganha filiados na Era Lula
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 30/04/2006, O País, p. 13

Cerca de 300 sindicatos deixaram a central fundada pelo presidente, que continua, entretanto, sendo a maior

SÃO PAULO. Cerca de 300 sindicatos que representam 1,5 milhão de trabalhadores se desfiliaram ou deixaram de contribuir com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) no governo Luiz Inácio Lula da Silva, um de seus fundadores. Segundo os números da própria CUT, porém, a debandada não abalou a entidade que, com 7,4 milhões de associados, ainda é a maior do Brasil. Em 2002, a CUT representava 7,1 milhões de trabalhadores. Mas a Força Sindical, que em 2002 tinha menos da metade de filiados que a CUT, diz ter dobrado sua base no governo Lula: hoje são 7,3 milhões. A CUT contesta os números da Força.

Segundo sindicalistas, um dos motivos para a perda de terreno da CUT é a omissão da central diante de temas de interesse dos trabalhadores pela ligação de seus dirigentes com o governo. O atual presidente, João Felício, é secretário sindical do PT. Felício sucedeu a Luiz Marinho, atual ministro do Trabalho, no cargo.

¿Metalúrgicos e bancários querem impor o candidato¿

Em junho, a CUT elegerá novos dirigentes, mas poucos duvidam da manutenção da hegemonia do PT na direção. Hoje, o Campo Majoritário, que inclui o PCdoB, moderados do PT e a esquerdista Democracia Socialista (DS), que também integra a corrente petista, tem 75% do poder na CUT. A oposição é formada por PSOL, PCB, correntes minoritárias da esquerda do PT e independentes. Há dois anos o PSTU saiu da CUT, e os oposicionistas contam com a insatisfação de parte da base para tentar aumentar sua força na central.

¿ O Campo Majoritário tem criado insatisfação em diversos sindicatos. Eles têm dez nomes para a presidência, mas metalúrgicos e bancários querem impor novamente o seu candidato ¿ dize Lujan Miranda, integrante da executiva nacional da CUT filiada ao PSOL.

A atual direção já prepara uma proposta de apoio formal da CUT à reeleição de Lula.

¿ Setores da esquerda acham que Lula é igual ao Fernando Henrique e querem que e gente bata no Lula. Mas não vamos tratá-lo do mesmo jeito que tratamos o Fernando Henrique. Lula tem outra origem, outra história ¿ admitiu Felício, que reconhece insatisfação de certos setores com o governo, mas ressalva:

¿ Lula foi melhor do que o Fernando Henrique em tudo. O máximo que se pode dizer é que foi pouco. Mas se Lula não deu tudo o que a gente queria, pelo menos negociou. Fernando Henrique nem negociava. Temos que eleger o Lula para evitar a volta do PSDB/PFL.

Alheio à crise do rival, João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, aponta o que acha negativo no governo:

¿ A manutenção da política econômica foi muito negativa.

Dos cerca de 300 sindicatos que deixaram a CUT, a maioria é de funcionários públicos. Atualmente seis categorias de servidores federais ligados à CUT estão em greve.

¿ A base está insatisfeita com o governo porque foi gerada uma expectativa muito grande com o Lula. Mas não dá nem para comparar com o pesadelo que foi o governo do PSDB ¿ diz Josenilton Costa, secretário-geral da Confederação dos Servidores Públicos Federais.

Os descontentes estão divididos em dois grupos. O primeiro, liderado pelo PSTU sob o nome Coordenação Nacional de Lutas (Conlutas), se reunirá no fim desta semana em Sumaré (SP) com estudantes, sem-terra e sem-teto para tentar criar uma entidade intersindical com sindicatos e movimentos sociais.

¿A CUT abriu mão de propostas históricas¿

O segundo grupo, com predominância do PSOL e independentes, se agrupa em torno da Assembléia Popular, um embrião de entidade que também carrega a bandeira do intersindicalismo, ou seja, da união entre sindicatos e movimentos populares para mobilizações e lutas.

Dificilmente a Conlutas ou a Assembléia Popular terão o mesmo poder da CUT, mas certamente farão muito barulho até a eleição de outubro.

Para os descontentes, a CUT não agiu com energia:

¿ A CUT tem postura dúbia sobre a política econômica. Diz que é contrária mas não mobiliza os trabalhadores. Abriu mão de propostas históricas em relação às reformas sindical e trabalhista quando aceitou participar de um consenso com patrões e governo no Fórum Nacional do Trabalho e referendou os aumentos do salário-mínimo abaixo do desejado ¿ disse Jair dos Santos, ex-dirigente do PT e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas, que suspendeu os pagamentos à CUT e deve se desfiliar.