Título: Quando o telefone toca, você sente um frio na espinha¿
Autor: Vera Araújo
Fonte: O Globo, 30/04/2006, Rio, p. 17

¿A gente não sabe como a droga entra na vida de algumas pessoas e de outras não. Tenho dois filhos totalmente diferentes e foram criados da mesma forma, mas um deles foi atingido pelo crack. O dependente dessa droga perde o controle de suas ações. Pessoas de baixa renda criam uma parceria com os jovens de classe média. Eu e meu marido desconfiamos que ele usava crack e acabei descobrindo o cachimbo. Procurei me informar com os amigos que pareciam estar passando pelo mesmo problema. A família toda foi para a terapia. A presença da família é primordial para a recuperação. Passei a trabalhar só até a metade da semana, mas não é nada diante do pesadelo de ficar atrás do seu filho, sem saber do paradeiro dele. Você sai de madrugada e entra em lugares de risco. Se você não o encontra, não consegue dormir, trabalhar, se alimentar, é um exercício de quanto você pode suportar. Você não consegue lidar com a própria vida. Duvida de tudo, põe valores em xeque. Quando o telefone toca, você sente um frio na espinha. Fica com medo de atender e receber a notícia de que seu filho está morto. Você perde o chão.

MÃE DE X. professora universitária