Título: ALEMANHA VIVE ONDA DE ATAQUES CONTRA PROFESSORES
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 30/04/2006, O Mundo, p. 43

Problema dobrou de tamanho no país desde 1993

BERLIM. O pátio da Escola Rütli no recreio às 9h30m da última sexta-feira parecia um cenário de cinema. As crianças passeavam no pátio da instituição que funciona num prédio do início do século XIX, que lembra uma época quando as escolas eram apenas lugar de aprendizado e preparação para a vida.

Policiais vigiavam o prédio com cautela para não despertar temor, enquanto os alunos arremessavam de vez em quando pedras para chamar a atenção dos jornalistas que procuravam filmar imagens do pátio.

A Escola Rütli ficou famosa na Alemanha depois que a vice-diretora Petra Eggebrecht enviou às autoridades de Berlim um pedido de socorro por não suportar mais o clima de violência na escola de Neukölln, um bairro de classe média-baixa de Berlim. Segundo Eggebrecht, na carta publicada pelo jornal ¿Tagesspiegel¿, os professores da Rütli perderam a esperança de ensinar. Sobreviver ao dia-a-dia de violência é hoje a única meta.

Pobreza não explica onda de violência

A carta de Eggebrecht chocou a Alemanha, embora o problema da violência nas escolas não seja novidade. Se em 1993 foram registrados em todo o país 24.615 delitos de crianças e adolescentes em idade escolar, 11 anos depois o número disparou para 54.091. Autoridades e professores estão alarmados porque não existe uma explicação plausível para o fenômeno. Pobreza e dificuldades sempre existiram sem que isso resultasse neste tipo de violência.

Um professor de uma outra escola escreveu uma carta à prefeitura de Berlim afirmando que a violência ocorre atualmente em todas as escolas da cidade. O principal motivo, diz ele, é a falta de respeito com os professores. As crianças reagem de modo indiferente, como se não estivessem interessadas no aprendizado.

Secretário de Educação proíbe entrevistas

Para poupar a imagem da cidade, o secretário de Educação de Berlim, Klaus Böger, proibiu os professores de darem entrevistas sobre o assunto. Mesmo Eggebrecht não pode mais falar sobre os problemas que enfrenta no dia-a-dia da escola. No ano da Copa, os alemães preferem pôr todos os problemas debaixo do tapete e tentar mostrar aos visitantes um país de cartão-postal.

Segundo a ex-diretora, é o aspecto socioeconômico e não a origem de uma família de imigrantes o motivo da violência, pois a ¿escola reúne as crianças que não conseguiram ir para uma escola melhor¿ e que não vêem perspectivas para o futuro.