Título: VIOLÊNCIA NAS SALAS DE AULA ASSUSTA A EUROPA
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 30/04/2006, O Mundo, p. 43

No Reino Unido, professores se sentem ameaçados e pedem detectores de metais para evitar armas nas escolas

LONDRES. Uma realidade mais identificada com os Estados Unidos assusta cada vez mais a Europa: a violência nas escolas. No Reino Unido, há uma face bem conhecida do problema, divulgada em histórias sobre agressões e mesmo casos de morte, como a de um aluno apunhalado numa briga com um colega num estabelecimento educacional de Lincolnshire, há dois anos.

O que pouca gente sabe é que o problema afeta cada vez mais os professores. De acordo com o principal sindicato da categoria, o Naswut, a cada sete minutos um profissional sofre algum tipo de abuso físico ou verbal. E um exemplo claro foi visto nas televisões britânicas ano passado, quando um documentário do Channel Five exibiu cenas de caos em salas de aula.

A violência escolar se transformou numa questão de Estado para o primeiro-ministro Tony Blair, que ano passado apresentou planos polêmicos para dar aos professores autorização do uso de força para contar os alunos mais rebeldes.

As propostas foram recebidas com desconfiança por entidades de defesa dos direitos da criança e do adolescente, especialmente porque o Reino Unido até meados da década de 80 ainda permitia a aplicação dos chamados castigos corporais para disciplinar alunos ¿ as bastonadas, por exemplo, só foram abolidas em 1987.

Professores querem exames para detectar uso de drogas

Na época, foi a pressão do próprio corpo docente que motivou a mudança nas regras. Agora, os professores se sentem desprotegidos e, no mais recente congresso da categoria, sindicatos exigiram do governo medidas como a instalação de detectores de metais em escolas para reprimir o uso de armas, exames aleatórios para detectar o uso de drogas e mais pressão sobre os pais de alunos problemáticos, que tanto professores como o governo acreditam ser parte fundamental do problema.

¿ Temos muitos casos de pais que não apenas culpam as escolas, mas que também adotam um tom agressivo e ameaçado quando lidam com os professores. Só que muitas vezes as crianças trazem para a sala de aula problemas de educação que deveria ser abordados primeiro em casa ¿ afirma David Hart, secretário-geral União Nacional dos Diretores de Escolas

O lobby não se dá apenas por uma questão de segurança, mas para evitar a perda de profissionais ¿ além dos problemas do gênero serem a principal causa para professores deixarem seus cargos, uma recente pesquisa revelou que 75% do corpo docente da rede pública cogita ou já cogitou trocar de profissão por conta da falta de segurança. E o caso de uma professora que foi violentada por um aluno numa escola de Londres pôs ainda mais lenha na fogueira.

As soluções para o controle da violência esbarram no fato de que governo e professores são favoráveis a um sistema em que expulsões ou exclusões de alunos sejam contrabalançadas com o maior uso de programas de reabilitação, como forma de combater a evasão escolar, um outro grande problema enfrentado pelas autoridades educacionais britânicas.