Título: GREVE QUER DEIXAR EUA 24 HORAS SEM IMIGRANTES
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 30/04/2006, O Mundo, p. 45

Protesto contra lei que ameaça deportar milhões de ilegais força empresas a fechar portas por falta de trabalhadores

WASHINGTON. Em meio aos rumores de ameaças de demissão e de que agentes de imigração realizarão operações maciças contra os imigrantes ¿ em sua maioria hispânicos ¿ que planejam participar amanhã de uma greve nacional nos Estados Unidos, acompanhada de um boicote de 24 horas ao comércio, centenas de empresas de vários portes anunciaram nos últimos dois dias que decidiram fechar as suas portas nesta segunda-feira.

Ao contrário do que acontece no resto do mundo, o 1º de maio não é feriado nos Estados Unidos ¿ onde o Dia do Trabalho é comemorado em 2 de setembro. Por isso, os imigrantes decidiram realizar nesta data ¿ definida como ¿Dia Sem Imigrantes¿¿ uma manifestação simbólica, na tentativa de mostrar o seu peso na economia do país.

Empresa fechará nove unidades devido à greve

O motivo é a atual discussão no Congresso de um projeto de uma nova lei de imigração ¿ que, do jeito que está, prevê a deportação em massa das 12 milhões de pessoas que vivem ilegalmente nos EUA.

¿ Sabemos que, na prática, será uma greve parcial porque há muita gente com medo, tanto dos empregadores quanto da imigração. Mas ainda assim conseguiremos marcar a nossa presença, mostrar o nosso valor a essa sociedade que com essa nova lei procura nos menosprezar ¿ disse ao GLOBO Ricardo Juárez, do grupo Mexicanos Sem Fronteiras, que coordena o movimento em Washington.

A gigantesca Tyson Foods Inc., a maior produtora mundial de carne, foi uma das que anunciaram na sexta-feira que preferiram declarar um feriado próprio amanhã. Ela fechará nove unidades porque muitos de seus empregados notificaram que participarão da greve, do boicote e das manifestações.

¿ Nós não estamos incentivando a participação deles nesse movimento, mas entendemos o sentimento que está por trás dos eventos desse primeiro de maio ¿ disse Gary Mickelson, porta-voz da empresa.

Em várias firmas houve um acordo conveniente: os imigrantes decidiram trabalhar no sábado ou no domingo, em geral dias de folga, para compensar a greve ¿ o que daria a ela, definitivamente, um caráter simbólico. Assim eles não perderiam parte do salário e as empresas manteriam a sua produção normal.

Não surgiu, ainda, uma estimativa sobre o prejuízo que tal greve causaria. O que se sabe é que a comunidade hispânica tem um poder de compra equivalente a US$720 bilhões anuais ¿ cerca de uma vez e meia o produto interno bruto do Brasil. A paralisação da mão-de-obra por um dia causaria um prejuízo ainda mais elevado que o boicote de 24 horas ao comércio.

¿ Sabemos que o risco é grande para os imigrantes ilegais. Mas também sabemos que, no fundo, se trata de um risco diário. A qualquer momento pode haver demissão sem justa causa e o trabalhador, sem documentos, não tem sequer como se queixar. Ao mesmo tempo, os agentes de imigração também podem atacar a qualquer hora ¿ disse o padre salvadorenho Vidal Rivas, um dos coordenadores do movimento em Adams Morgan, o bairro latino de Washington.