Título: MULHERES JÁ REPRESENTAM QUASE 60% DOS CLIENTES DE PREVIDÊNCIA PRIVADA
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 01/05/2006, Economia, p. 17

Clientela feminina desbanca a masculina e puxa as vendas de produtos

A secretária Karina Delcaro, de 24 anos, engorda as estatísticas mais recentes da previdência privada no Brasil. São mulheres como ela que estão puxando as vendas de planos em todo o país. Hoje, o público feminino já representa quase 60% da carteira de clientes de algumas empresas, como é o caso da carioca Mongeral. No Itaú, a fatia chega a 55% e na Sul América, a 47%. Os dados mostram uma forte reversão em relação ao histórico da previdência no Brasil, onde os planos sempre foram majoritariamente contratados por homens.

Segundo Luiz Cláudio Friedheim, diretor da Mongeral, o grande salto do público feminino aconteceu nos últimos cinco anos. E, com a chegada das mulheres, veio a reboque a contratação de cada vez mais planos para crianças. Na Bradesco Vida e Previdência, por exemplo, as mães, que representavam cerca de 41% no início da década, foram responsáveis por 45% das contratações destes planos no ano passado. Na Mongeral, representam 35% e na Sul América, 40%. A pequena Gabriela, filha de Karina, é um exemplo. Com apenas um mês de vida, vai ganhar, em maio, um plano de previdência da mãe.

¿ Quando estava grávida, procurei me informar sobre a possibilidade de contratar um plano também para a Gabriela. Acho importante começar a pensar em previdência desde cedo, para termos uma renda adicional no futuro, sem depender da aposentadoria pelo INSS. Aqui em casa, só falta meu marido, mas ele já está sendo convencido dos benefícios de ter um plano de previdência privada ¿ entrega Karina, que contratou um plano da Mongeral há dois anos.

Mulheres estimulam vendas para crianças e homens

O discurso de Karina dá pistas de outro efeito colateral do crescimento feminino na previdência: muitas mulheres não apenas contrataram produtos para si e para os filhos, mas também têm convencido os maridos a ter um plano de previdência privada.

É o caso da produtora Leila Boulhosa, de 41 anos. Ela e o marido, Luís, contrataram um plano de previdência há cerca de um ano. Mérito dela:

¿ As mulheres tendem a ser mais organizadas e mais preocupadas com o futuro ¿ acredita ela. ¿ Mostrei ao meu marido a importância de se planejar a aposentadoria.

Segundo Giovana Zardin, analista de produtos de previdência da Sul América, as mulheres representam hoje, em média, cerca de 45% do mercado de previdência no Brasil. Na Sul América, o percentual sobe para 47% (era de 40% em 2000).

¿ São as mulheres que têm puxado as vendas na Caixa. Aqui, já são 50% dos clientes. A nosso ver, essa é uma participação que ainda deve crescer mais à medida que a renda das mulheres se aproxime mais da dos homens ¿ acredita Juvêncio Braga, diretor da Caixa Vida & Previdência.

Hoje, a diferença salarial faz com que as aplicações feitas por homens sejam ainda maiores que as das mulheres, apesar do crescimento da participação feminina. No entanto, as empresas identificaram uma diferença fundamental entre os clientes dos dois sexos:

¿ Mulheres fazem, em geral, pagamentos regulares, mensais, enquanto homens tendem a fazer contribuições esporádicas. Isso sugere um planejamento financeiro maior por parte do público feminino e mostra que há aí um enorme nicho a ser explorado. A evolução natural do mercado é que haja planos exclusivamente para homens ou mulheres, com características distintas ¿ diz Osvaldo do Nascimento, presidente da Associação Nacional de Previdência Privada (Anapp) e diretor-executivo da Itaú Vida e Previdência.

No Itaú, as mulheres, que representavam 35% da carteira de clientes em 2000, hoje respondem por 55% do total. O crescimento fez com que a instituição colocasse na prateleira um plano de previdência que prevê, em caso de falecimento da mãe, o recebimento de renda pelos filhos até a maioridade e/ou a conclusão de sua formação universitária.

¿ Custa de R$3 a R$4 por mês para mães na faixa dos 30 anos ¿ explica Nascimento.

Giovana Zardin, da Sul América, diz que na empresa, as mulheres também costumam comprar os produtos que incluem uma renda para os filhos pequenos ou mesmo o marido, em caso de falecimento da segurada:

¿ O segmento de previdência para mulheres é um mercado que queremos explorar cada vez mais, criando serviços agregados, como uma boa consultoria financeira ou mesmo planejamento tributário para o público feminino. Faltam ainda produtos de previdência 100% adequados a este público.

Mulheres evitam aplicações que tenham maior risco

Quando o assunto é investimento, homens e mulheres seguem caminhos distintos. Luciano Snel, diretor financeiro da Icatu Hartford, diz que, na instituição, apenas 20% das mulheres investem no plano agressivo, que pode aplicar até 49% dos recursos em ações, ante 25% dos homens.

¿ Elas ainda são mais cautelosas ¿ acredita Snel.

Marco Antônio Rossi, presidente da Bradesco Vida e Previdência ¿ onde a participação feminina aumentou em 224,2% em quatro anos, ante 200% da fatia masculina ¿ diz que a tendência é de que as mulheres puxem cada vez mais as vendas do setor:

¿ Com a participação cada vez maior das mulheres e sua melhor qualificação no mercado de trabalho, essa é a tendência.