Título: MORRE O ECONOMISTA JOHN KENNETH GALBRAITH
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Fonte: O Globo, 01/05/2006, Economia, p. 18

Aos 97 anos, professor de Harvard era crítico dos excessos do capitalismo e assessorou Roosevelt, Kennedy e Clinton

WASHINGTON. O pensamento econômico do século XX perdeu um dos seus mais influentes autores. O economista americano John Kenneth Galbraith morreu anteontem, aos 97 anos, de causas naturais, num hospital em Cambridge, Estados Unidos. Conhecido por seus livros de leitura fácil, que apresentavam a economia ao público comum e por diversas vezes estiveram nas listas dos mais vendidos, Galbraith era um crítico dos excessos do capitalismo. Defendia a intervenção do Estado na economia, por meio de suas instituições, e a criação de uma rede de proteção social aos mais pobres.

Galbraith trabalhou no governo de vários presidentes democratas e, por seis décadas, ajudou a moldar as políticas econômicas do partido.

Começou sua carreira como economista do programa ¿New Deal¿, que combateu a depressão americana nos anos 30. No terceiro mandato de Franklin Roosevelt (1941 a 1945), organizou o sistema de controle de preços durante a Segunda Guerra Mundial.

Foi embaixador de John Kennedy (presidente de 1961 a 1963) na Índia e ajudou a elaborar os programas sociais de Lyndon Johnson (1963 a 1969). Também foi assessor de Bill Clinton (1993 a 2001).

Galbraith é considerado um expoente da escola econômica institucionalista, que atribui mais importância às instituições que aos mercados. Uma de suas maiores influências foi o economista britânico John Keynes, que defendia o aumento dos gastos públicos como forma de combate ao desemprego.

Nascido no Canadá, Galbraith adquiriu a nacionalidade americana na década de 30. Militante político de valores progressistas, apoiou o movimento feminista e defendeu a redução da jornada de trabalho para menos de 40 horas semanais. Nos anos 60, foi um dos primeiros críticos da Guerra do Vietnã.

Publicou mais de 30 livros, nos quais combinava um texto leve com suas famosas frases de efeito. ¿A sociedade afluente¿, de 1958, mostrou como a prosperidade americana pós-Segunda Guerra Mundial não reduziu as enormes disparidades de renda no país e vendeu mais de um milhão de cópias. Em 1999, o livro foi escolhido pela editora Modern Library como um dos cem melhores títulos de não ficção em língua inglesa.

Em 1975, depois de se aposentar como professor de Harvard, Galbraith foi apresentador da série de televisão britânica ¿A era da incerteza¿. O livro de mesmo título também foi um sucesso de vendas. Pelo teor de seus textos, ficou conhecido como o economista que revelou o lado negro do sonho americano.

Nos anos 90, muito antes do colapso da Enron e dos escândalos financeiros que se seguiram, Galbraith fez um alerta sobre o poder cada vez maior das corporações, que ficavam fora do alcance da fiscalização. Em dezembro de 1999, em entrevista ao jornal ¿Los Angeles Times¿, o economista afirmou que havia uma ¿bolha especulativa¿ no mercado de ações. Três meses depois, as bolsas americanas despencavam num movimento que ficou conhecido como o estouro da bolha.

Para o ministro das Finanças do Reino Unido, Gordon Brown, os livros de Galbraith serão referência para as futuras gerações:

¿ Ele era um brilhante economista e escritor.

Na avaliação de Carlos Lessa, professor da UFRJ e ex-presidente do BNDES, Galbraith foi ¿o grande rebelde autorizado do cenário americano¿:

¿ Não foi um homem da esquerda. Mas sempre foi reverenciado nos Estados Unidos. Atualmente, não há outro economista como ele. Mas provavelmente vão surgir nomes à sua altura. Paul Krugman, por exemplo, que consegue falar para multidões, pode evoluir e chegar a ser um Galbraith.

Para Carlos Langoni, ex-presidente do Banco Central, Galbraith foi um dos pioneiros na análise do desenvolvimento:

¿ Ele se preocupou com questões como pobreza e distribuição de renda.

John Kenneth Galbraith nasceu em 15 outubro de 1908 em Iona Station, Ontário, Canadá. Depois de se formar na Universidade de Toronto, em 1931, se mudou para os Estados Unidos, onde fez doutorado na Universidade da Califórnia. Foi professor nesta instituição, em Princeton e em Bristol. Em 1949, assumiu o cargo de catedrático emérito em Harvard, onde ficou até a aposentadoria, em 1975.

A morte de Galbraith foi informada ontem pelo Hospital Mount Auburn, em Cambridge. O economista era casado com Catherine Atwater Galbraith, com quem teve quatro filhos, e será enterrado em Boston.