Título: Redução de fornecimento por chuvas já é apagão de gás, dizem analistas
Autor: Mariza Louven e Monica Tavares
Fonte: O Globo, 02/05/2006, Economia, p. 22

Problemas climáticos na Bolívia reduziram abastecimento para refinarias

RIO e BRASÍLIA.O Brasil já vive um apagão de gás, dizem especialistas, porque vem racionando o fornecimento às refinarias da Petrobras e às termelétricas localizadas no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste há cerca de um mês. Mas o governo brasileiro diz que decisão do governo boliviano de nacionalizar suas reservas de petróleo e gás não causará mais problemas de abastecimento aqui, pois a Bolívia não teria para quem vender o gás natural comprado pelo Brasil nem tecnologia para produzir derivados de petróleo.

No mercado financeiro internacional, o problema não afetou as ações da empresa, que subiram ontem, acompanhando a alta de 2,5% do petróleo, influenciada, em parte, pela decisão do governo boliviano. O barril do tipo Brent fechou a US$73,89 em Londres. Nos Estados Unidos, a cotação do petróleo leve ficou em US$73,70.

¿ A alta do petróleo influenciou mais do que o problema na Bolívia ¿ analisou André Querne, da Máxima Asset.

O investimento da Petrobras na Bolívia, superior a US$1 bilhão, é pequeno para o tamanho da empresa, mas a dependência do país em relação ao produto boliviano é grande. O recente corte no abastecimento das refinarias e das térmicas, respectivamente de 50% e 72%, foi provocado por problemas no fornecimento da Bolívia, após a tubulação que transporta o produto ter sido danificada pelas chuvas.

Petrobras já decidira reduzir investimentos

Dos 36 milhões de metros cúbicos consumidos por dia nas regiões Sul e Sudeste do país, cerca de 26 milhões são importados dos campos da Bolívia. Mas enquanto, em média, a dependência do gás boliviano no país é de 51%, no Rio Grande do Sul ela chega a 70%, em São Paulo a 75% e em Santa catarina, Paraná, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul a 100%.

¿ Não tem jeito, a Petrobras vai ter que aceitar o que Morales está impondo ¿ opina o especialista Adriano Pires.

Além disso, como a demanda brasileira é maior que a oferta, há existe um déficit potencial de 46% nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste e de 52% no Nordeste, segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE). O grande problema é que a independência só virá quando a Petrobras começar produzir gás na Bacia de Santos, onde a empresa planeja realizar investimento, junto com parceiros, de US$18 bilhões nos próximos dez anos.

¿ Lula e Gabrieli disseram que Morales era companheiro. Agora quero ver como vão explicar. ¿ acrescentou.

No ano passado, o governo brasileiro já falava que a Petrobras reduziria os investimentos na Bolívia devido à nova Lei de Hidrocarbonetos. Ao mesmo tempo, a estatal decidiu antecipar a produção de gás natural na Bacia de Santos, do campo gigante de Golfinho, que tem reservas da ordem de 400 bilhões de metros cúbicos.

A Petrobras prevê um aumento anual de consumo de gás natural no Brasil acima de 10%, e estima que a produção da Bacia de Santos chegue a cerca de 30 milhões de metros cúbicos diários até o fim de 2010 ¿ depois de atingir 12 milhões no segundo semestre de 2008.

As jazidas descobertas na Bacia de Santos têm reservas de 419 bilhões de metros cúbicos de gás, que garantem, segundo os cálculos da Petrobras, uma demanda de consumo de 60 milhões de metros cúbicos por dia durante 20 anos.

Outra estratégia brasileira seria a construção de um gasoduto a partir da Venezuela que cruzará toda a América do Sul. A obra deverá medir cerca de 10 mil quilômetros e custar até US$25 bilhões. Para o secretário de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio, Wagner Victer, isso é loucura:

¿ Seria multiplicar o problema por cinco ¿ disse ele, referindo-se ao fato de tanto o governo de um país quanto o de outro serem nacionalistas de esquerda.