Título: RELIGIOSOS REPROVAM GREVE DE FOME
Autor: Dimmi Amora
Fonte: O Globo, 03/05/2006, O País, p. 8

Pastores dizem que ex-governador deveria é responder às denúncias

O jejum do ex-governador Anthony Garotinho está sendo reprovado não só por políticos de seu partido mas também por líderes da mesma religião dele. Pastores evangélicos ouvidos pelo GLOBO disseram que o jejum é um ato de sacrifício por uma causa nobre e não deve ser transformado em espetáculo. O pastor Alexandre Marques, da Igreja Presbiteriana Bethesda, de Copacabana, disse que Garotinho é uma espécie de ¿Mahatma Gandhi às avessas¿:

¿ Até agora não ficou claro o que ele quer: mais espaço na mídia, observadores internacionais na eleição ou um deslocamento do foco de acusações de corrupção que pesam contra ele? A proposta de Gandhi tinha um viés religioso com sintomas políticos, mas seu objetivo era o de mostrar que a cultura da paz poderia fortalecer o diálogo entre muçulmanos e hindus, para que estes lutassem contra a opressão dos britânicos. Ele não queria se defender de falsas acusações. Pelo contrário, ele nunca ligou para o que a imprensa, principalmente a britânica, dizia dele.

Na Bíblia, Jesus teria condenado o jejum como um meio de manipulação do povo, uma demonstração de hipocrisia e um show de vaidade. Em Mateus, versículo 6, capítulos 16, Jesus disse: ¿Quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas, porque desfiguram o rosto a fim de parecer aos homens que jejuam.¿ Segundo o pastor Marques, ele se referia aos fariseus, que eram pessoas letradas e responsáveis pela catequização popular.

¿ O jejum era um meio de manutenção do status quo social. Os fariseus se achavam mais especiais que o povo e queriam afirmar a supremacia da espiritualidade deles, eram os doutores da lei ¿ explica.

Para o pastor Ariovaldo Ramos, membro da diretoria da Associação Evangélica Brasileira, Garotinho está transformando uma luta política numa batalha espiritual e dando contornos místicos a um processo que é leigo.

¿ A comunidade evangélica pode até apoiar Garotinho, achar que ele está sendo vítima de perseguição mesmo e que há complô da grande imprensa contra ele porque a greve de fome é um apelo dramático inquestionável. Ainda que eu me solidarize com a dor dele, que pode até ser legítima, lamento que ele tenha escolhido esse caminho ¿ disse o pastor, lembrando que o jejum bíblico é secreto e um ato de aprofundamento da relação do cristão com Deus.

Pastor: jejum não deve ser usado para obter candidatura

Para o pastor Manoel Ferreira, presidente da Convenção Nacional das Assembléias de Deus no Brasil e do Conselho Nacional dos Pastores do Brasil, o ex-governador deveria responder às acusações.

¿ A greve de fome não é o melhor caminho, e a Bíblia não exige sacrifício de ninguém. O jejum deve ser feito por outras razões e não para conseguir uma candidatura.

O pastor Jonas Resende, da Igreja Cristã de Ipanema, disse não ter simpatia por esses atos sensacionalistas, mas ressaltou que, se for por motivos justos, ainda que pessoais, o jejum se justifica.