Título: MP PEDE À PF PARA INTERROGAR MATTOSO DE NOVO
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 03/05/2006, O País, p. 10

Procuradores querem prorrogar inquérito sobre quebra de sigilo

BRASÍLIA. O Ministério Público Federal pediu ontem que a Polícia Federal volte a interrogar o ex-presidente da Caixa Jorge Mattoso no inquérito sobre a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Num parecer enviado à Justiça Federal, os procuradores Gustavo Velloso e Ana Lívia Tinoco pedem também que a polícia tome o depoimento, pela segunda vez, do ex-secretário nacional de Direito Econômico Daniel Goldberg e do chefe de gabinete do Ministério da Justiça, Cláudio Alencar. Os procuradores sugerem ainda a prorrogação das investigações por, pelo menos, mais 30 dias.

No documento, encaminhado à juíza Maria de Fátima de Paula Pessoa, da 10ª Vara Federal, Velloso e Ana Lívia também recomendam o arquivamento das investigações sobre suposta lavagem de dinheiro por Francenildo. Para os dois procuradores, não há indícios que justifiquem a investigação. A PF abriu o inquérito a partir de um relatório da Caixa sobre suposta movimentação financeira atípica de Francenildo. O caseiro, que ganha R$700 por mês, recebeu R$25 mil no início deste ano, antes de depor contra o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci na CPI dos Bingos.

Polícia não encontrou indícios contra caseiro

Para Velloso e Ana Lívia, nada indica que Francenildo tenha tentado esconder a origem dos recursos. Em depoimento à PF e em entrevistas, o caseiro disse que recebeu o dinheiro do suposto pai biológico, um empresário do Piauí. Os recursos fariam parte de um acerto para que ele desistisse de uma ação de reconhecimento de paternidade contra o empresário.

O delegado Rodrigo Carneiro Gomes informou, em relatório enviado à Justiça há duas semanas, que não encontrou indícios contra Francenildo na primeira fase do inquérito. Para o Ministério Público, a PF deve aprofundar as investigações sobre a participação de Goldberg e Alencar, dois dos principais assessores do ministro Márcio Thomaz Bastos. Os dois participaram de reuniões com Palocci nos dias 16 e 17 de março passado, data da quebra de sigilo.

Em depoimento à PF, ambos disseram que foram procurados por Palocci porque o ex-ministro queria saber se a polícia poderia investigar Francenildo. Parlamentares da oposição levantaram a suspeita de que o caseiro teria recebido dinheiro para atacar o ex-ministro na CPI.

Mas os procuradores não ficaram satisfeitos com as explicações. ¿Eles entendem que, apesar dos fatos já estarem bem delineados, ainda é necessário esclarecer as circunstâncias em que ocorreram os delitos¿, diz uma nota divulgada no fim da tarde pela assessoria de imprensa do Ministério Público.