Título: EMPRESÁRIOS TEMEM QUE MEDIDA DA BOLÍVIA ENCAREÇA OS PREÇOS DO GÁS
Autor: Adriana Vasconcelos, Maria Lima e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 03/05/2006, Economia, p. 22

Presidente da Fiesp cobra uma ação enérgica do governo brasileiro

BRASÍLIA e SÃO PAULO. As primeiras reações do setor empresarial à decisão do governo da Bolívia de nacionalizar as reservas de gás natural indicam que a preocupação maior é com o impacto nos preços do produto para os consumidores brasileiros. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse que não cogita a hipótese de desabastecimento no Brasil, o que seria, no seu entendimento, desastroso para a própria Bolívia. Mas mostrou-se preocupado com o efeito nos preços do gás.

¿ Espero que o governo boliviano tenha o bom senso e a prudência necessários para que uma relação, que historicamente foi sempre tão estreita e fraterna, não seja agora comprometida por uma ação absolutamente injustificada, tendo em vista os interesses estratégicos dos dois países ¿ disse.

O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, por sua vez, cobrou uma ação vigorosa do governo federal para evitar um aumento de preços. Segundo ele, não há risco de desabastecimento, mas o aumento de impostos poderá levar a um aumento do preço do gás no Brasil.

¿ Não vejo nenhum risco de desabastecimento. Não existe outra alternativa para a Bolívia. Eles precisam da arrecadação disso ¿ disse Skaf.

Dos 36 milhões de metros cúbicos consumidos por dia nas regiões Sul e Sudeste, cerca de 26 milhões são importados da Bolívia e o setor industrial é o maior consumidor. Cerca de 53% do total de gás consumido no país vai para a indústria. Cauteloso, o presidente da CNI considerou que ainda é cedo para alarmismo.

¿ Precisamos conhecer melhor o teor do decreto que nacionalizou os campos e ativos das empresas petrolíferas ¿ afirmou.

Já o presidente da Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, disse que o encarecimento do gás boliviano já vinha acontecendo antes dessa crise, mas previu que poderá haver ¿um soluço¿ no abastecimento.

¿ A Bolívia não terá cliente melhor e com mais demanda que o Brasil ¿ afirmou.

Skaf, por sua vez, foi mais incisivo:

¿ Discordamos do presidente Evo Morales. E esperamos que o governo brasileiro tenha uma reação firme ¿ cobrou.

O presidente do Centro das Indústrias de São Paulo (Ciesp), Cláudio Vaz, advertiu para os problemas que a alta nos preços pode trazer às empresas paulistas.