Título: TRIUNFO DO POPULISMO DO PETRÓLEO NA AMÉRICA LATINA
Autor: José Manuel Calvo
Fonte: O Globo, 03/05/2006, O Mundo, p. 29

Para analistas, chavismo se sustenta no dinheiro da indústria venezuelana e nada tem de esquerda

WASHINGTON. Em quase todas as eleições realizadas na América Latina nos últimos meses, os vencedores se distanciaram dos EUA. Em alguns casos, foram eleitos exatamente por terem se distanciado. Mas Washington, com a América Latina fora de suas prioridades, começa a se dar conta do alvoroço no quintal. A classe política já tem outros nomes para acrescentar ao de Fidel Castro.

¿ Quanto tempo faz que todo mundo em Washington sabia o nome de um presidente da Bolívia ¿ brinca Cynthia Arnson, diretora de América Latina do Wilson Center.

Os EUA ¿ que, é justo afirmar, já descobrira as virtudes de Lula no Brasil e Ricardo Lagos no Chile ¿ dão-se conta do óbvio: os novos líderes da região estão, com poucas exceções, à frente de governos de esquerda ou populistas. E Fidel, de quem só se falava na Flórida em época de eleição, vai completar 80 anos com novos amigos ao seu redor.

Álvaro Vargas Llosa, diretor do Centro para a Prosperidade Global de Washington, crê que o governo americano já despertou para a onda populista e esquerdista.

¿ Ele (o governo) entendeu que algo está acontecendo e suspeita de que isto pode ter conseqüências se não prestar um pouco de atenção. Pode ser que já esteja dando atenção, mas faltam outras coisas.

¿ O único instrumento da política externa americana na região é o comércio. E temo que, dólar por dólar, a Venezuela tenha uma capacidade muito maior de subsidiar seus amigos do que os EUA ¿ diz Ricardo Hausmann, economista de Harvard.

Sistemas que não conseguem dar vazão à expressão popular

O populismo é um problema para os EUA? Tom Shannon, secretário-adjunto para o continente, diz que não necessariamente:

¿ É um fenômeno natural nos sistemas com instituições que não conseguem dar vazão ao crescimento da expressão popular. Em Venezuela, Bolívia, Peru ou Equador, os conflitos foram sendo canalizados através das instituições democráticas, mas elas tiveram problemas para contê-los. O populismo surge como resultado da debilidade das instituições.

Para Jorge Castañeda, ex-chanceler do México, erra quem crê que Chávez é de esquerda:

¿ Ele pode responder a causas que são bandeiras das esquerdas, mas não a realidades. Creio que a política de Chávez é gastar dinheiro de petróleo. Quando acabar esse dinheiro o que ele vai fazer? Não há uma política social, não há uma política internacional, não há uma política econômica. Nada. Só o que há é muitíssimo dinheiro, porque há muito petróleo.

Roberto Álvarez concorda:

¿ Este é um populismo que tem um nome claro: Hugo Chávez. E, junto ao nome, uma etiqueta: petróleo. Sem o petróleo esse populismo não teria pernas para se levantar. (Do El Pais.)