Título: Garotinho e imprensa livre
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 04/05/2006, O GLOBO, p. 2

O quadro eleitoral se aproxima de um fato crucial, a definição do PMDB. Ironicamente, o maior golpe na candidatura própria foi dado pelo pré-candidato Garotinho, com sua insólita greve de fome que ontem começou a adquirir contornos mais preocupantes: a instigação de seus seguidores contra veículos de comunicação, em particular as Organizações Globo.

Depois do gás boliviano, por sinal, a liberdade de imprensa foi o segundo assunto do dia em Brasília. Se Garotinho achasse mesmo que está tendo seu direito de expressão cerceado, que não tem tido oportunidade de rebater as denúncias de diversos veículos sobre triangulação de recursos para sua pré-campanha, teria buscado a Justiça antes de entrar em greve de fome. No seminário pela passagem do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, realizado na Câmara por iniciativa da SIP e da ANJ, a nova presidente do STF, ministra Ellen Gracie, reiterou o inequívoco compromisso da Justiça brasileira com a observação destas garantias constitucionais. Garotinho, entretanto, preferiu o espetáculo dramático e ao vivo à refutação com argumentos e contraprovas.

A governadora Rosinha desembarcou na reunião da Executiva do PMDB não apenas para defender a candidatura do marido ou cobrar solidariedade. Também fez o jogo de culpar a mídia. Garotinho, disse ela, ¿lutará até às últimas conseqüências, custe o que custar, nem que seja a própria vida¿. Ela deve buscar no PMDB é quem ajude Garotinho a retroceder. Mandar coroas de flores para o ex-governador, como fizeram manifestantes, é escárnio de mau gosto extremo. Mas ele pisou primeiro neste terreno. Na falta de respostas, valeu-se da forma de luta só permitida aos que enfrentam a opressão extrema.

A greve de Garotinho tomou ares de intimidação à liberdade de imprensa no dia em que foi tão lembrada. Houve também a solenidade no Planalto em que o presidente Lula assinou o termo de adesão à Declaração de Chapultepec. Este documento aprovado pela SIP em 1994 já foi voluntariamente subscrito por 44 chefes de Estado (inclusive Fernando Henrique) reiterando compromisso irrestrito com a liberdade de imprensa e expressão. É verdade que o governo Lula pisou no tomate ao encampar a proposta de criação do Conselho Nacional de Jornalismo e tentou expulsar um correspondente estrangeiro. Nos dois casos, compreendeu o erro e cedeu aos protestos, recuando. Nos últimos 12 meses, ao enfrentar a crise cometeu erros que a tornaram mais grave em alguns momentos. Mas é também verdade que neste período a liberdade de imprensa foi plenamente exercitada. O secretário de imprensa e porta-voz André Singer, organizador da solenidade que reuniu empresários de comunicação e profissionais de imprensa, dizia ao final.

¿ As instituições democráticas, entre elas a liberdade de imprensa, passam por provas cruciais em momentos de turbulência política. Depois de 12 meses turbulentos podemos dizer com alegria que temos sido vitoriosos. A imprensa livre tem investigado e criticado o governo, todas as opiniões têm sido externadas. Este é o compromisso reiterado hoje pelo presidente.

Lula, no fim de semana, foi certeiro ao falar de Garotinho: fazendo o mesmo, já estaria morto.

TARSO GENRO avisou a José Alencar, ao PSB e ao PCdoB sobre a conversa que teria ontem com o presidente do PMDB, Michel Temer. Avisou até que oferecerá a vaga de vice ao partido, caso este tope a coligação com o PT. Um problema está em São Paulo. Quércia quer a vaga de senador, que o PT não ousa tomar de Eduardo Suplicy.