Título: DEVO À LIBERDADE DE IMPRENSA CHEGADA AO PODER¿
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 04/05/2006, O País, p. 14

Ao assinar Declaração de Chapultepec, Lula diz que jamais culpou veículos de comunicação por ter perdido três eleições

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu ontem à liberdade de imprensa o fato de ter conseguido chegar à Presidência da República. Num discurso durante a cerimônia em que assinou a Declaração de Chapultepec no Palácio do Planalto, Lula declarou que, mesmo tendo sido derrotado três vezes na disputa do cargo, jamais reclamou da imprensa ou a culpou por não ter vencido esses pleitos. Em tom de brincadeira, afirmou que perdeu porque simplesmente os eleitores votaram em seus concorrentes.

¿ Devo à liberdade de imprensa do meu país o fato de termos conseguido, em 20 anos, chegar à Presidência da República. Perdi três eleições. Eu duvido que tenha um empresário de imprensa que, em algum momento, tenha me visto fazer uma reclamação ou culpando alguém porque perdi as eleições. Uma das razões pelas quais eu perdi as eleições, eu descobri logo: é que uma parcela da sociedade não tinha votado em mim, tinha votado no outro ¿ disse Lula.

Declaração foi adotada em março de 1994

A Declaração de Chapultepec, que faz uma defesa da liberdade de imprensa no mundo, foi adotada em março de 1994, após encontro, no México, dos órgãos de imprensa das Américas. Ontem comemorou-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. O texto tem dez princípios em defesa da liberdade de imprensa. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso aderiu ao documento em 1996. Ontem foi a vez de Lula.

A declaração condena todas as formas de censura à imprensa. ¿Não deve existir nenhuma lei ou ato de poder que restrinja a liberdade de expressão ou de imprensa, seja qual for o meio de comunicação. Porque temos consciência dessa realidade e a sentimos com profunda convicção, firmemente comprometidos com a liberdade, subscrevemos esta declaração¿, diz o texto.

Lula: político precisa se habituar às críticas

Lula afirmou ainda que, na Presidência da República, jamais pegou o telefone e ligou para qualquer jornalista ou empresário de comunicação para reclamar de alguma reportagem. Para ele, o político precisa se habituar às críticas.

¿ Na hora em que um dirigente político quiser levantar todos os dias e só ver notícias boas sobre ele, a democracia estará correndo um sério risco e poderemos estar entrando numa maré de autoritarismo. Não são poucos os políticos que reclamam de vocês. Eu fico imaginando o quanto de telefonemas vocês devem receber todos os dias ¿ afirmou o presidente.

Lula aproveitou a cerimônia, e o assunto em questão, para dar uma estocada na oposição. O presidente afirmou que o povo sabe diferenciar no noticiário o que é correto ou não, verdade ou não e os exageros.

¿ Engana-se aquele político que acha que faz as coisas e pensa que o eleitor não faz o julgamento correto.

Lula encerrou seu discurso citando indiretamente as eleições ao afirmar que todos os políticos acabam subordinados ¿à compreensão daqueles que lêem, que assistem e que ouvem¿.

¿ E os governantes estarão à mercê do julgamento daqueles que votam no país.

O impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello foi lembrado por Lula em seu discurso. Ele afirmou que, durante o período de crise daquele governo, as pessoas diziam que a imprensa, ao divulgar os escândalos, não se sabia o que iria acontecer no país.

¿ Teve o impeachment e o que aconteceu? Nada. O Brasil seguiu a sua trajetória sem nenhuma preocupação.