Título: Convite para viagem irrita senador
Autor: Luiza Damé e Maria Lima
Fonte: O Globo, 04/05/2006, O País, p. 16

Até a última hora, rusgas com o Planalto

BRASÍLIA. Até o início da noite de ontem, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), fazia mistério sobre se aceitaria ou não o convite para acompanhar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Puerto Iguazú, hoje. Renan ficou irritado com o tratamento do Planalto em relação a sua posição de terceiro na linha sucessória da Presidência. Se ele não viajar, terá que assumir o cargo de Lula.

Em tese, Renan poderia assumir a Presidência; tem ainda quatro anos de mandato e não declarou em nenhum momento que será candidato em outubro. Mas foi atropelado pelos fatos logo pela manhã, quando a presidente do Supremo Tribunal Federal, Ellen Gracie, a quarta na linha sucessória, já comentava a possibilidade de assumir hoje o cargo de Lula.

A demora na resposta de Renan foi proposital. Ele não conseguia disfarçar a irritação com o governo. Pelo menos dois fatos teriam azedado o seu humor. Renan considerou uma descortesia o convite para a viagem a Puerto Iguazú ter sido feito pelo cerimonial do Planalto na manhã de ontem, em vez de um contato direto de Lula ou de seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho. Isso sem falar que ninguém do governo lhe perguntou se ele queria assumir ou preservar sua condição de elegível.

Renan também não gostou de ser surpreendido com a notícia de que o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, oferecera ao PMDB a vaga de vice na chapa de Lula em conversa com o presidente do partido, Michel Temer (SP). (Adriana Vasconcelos)