Título: LULA: DEPENDER DO GÁS DA BOLÍVIA FOI UM ERRO
Autor: Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 04/05/2006, Economia, p. 27

Presidente admite falha estratégica do governo, mas reafirma direito à soberania de `um povo sofrido¿

BRASÍLIA. Dois dias depois de Evo Morales ter anunciado a nacionalização das áreas de petróleo e gás da Bolívia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que foi um erro estratégico do governo brasileiro tornar o país dependente do gás boliviano. Lula ¿ em suas primeiras declarações públicas após a medida do governo da Bolívia ¿ ratificou o discurso de respeito a uma decisão soberana, argumentando que as reservas bolivianas são um direito ¿de um povo sofrido¿. Mas afirmou que uma nação não pode impor sua soberania à outra e, por isso, não é justificável que os direitos do Brasil sejam negados pela Bolívia.

¿ Foi um erro estratégico o Brasil ficar dependente de uma única fonte de energia que não é nossa ¿ afirmou Lula ao fim da solenidade de comemoração do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa.

Seguindo a orientação de tratar o caso diplomaticamente, Lula negou que haja crise entre os dois países e disse que pretende resolver as divergências na mesa de negociação.

Puxando o presidente da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Nelson Sirotsky, para uma conversa sobre a Bolívia, Lula afirmou que a decisão de Morales está ganhando dimensão maior do que realmente tem e defendeu uma saída negociada, ressaltando que o governo brasileiro vai trabalhar para assegurar o fornecimento de gás e o cumprimento dos contratos. Também garantiu que não haverá aumento de preços do gás natural, pois os contratos da Petrobras têm ainda 19 anos de vigência.

Foi a segunda vez no mesmo dia em que Lula falou sobre a crise. Pela manhã, durante seminário da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o presidente pregou conciliação, mas cobrou respeito aos direitos do Brasil.

¿ As divergências serão tiradas em torno de uma mesa, conversando. O fato de os bolivianos terem direito não significa negar o direito do Brasil. O que não pode é uma nação impor sua soberania sobre outras sem levar em conta que o resultado final da democracia é o equilíbrio entre as partes. E tenho certeza de que iremos nos acertar ¿ afirmou.

No discurso, o presidente procurou minimizar os efeitos da decisão boliviana e pregou a manutenção das relações entre os dois países.

¿ Não existirá crise, mas um ajuste necessário de um povo sofrido que tem o direito de reivindicar ter maior poder sobre suas riquezas. Não vamos descobrir uma arma qualquer na Bolívia para justificar uma briga com o país ¿ afirmou Lula sob aplausos, numa referência à alegação do presidente dos EUA e do Reino Unido para justificar a invasão do Iraque.

Na conversa com o presidente da ANJ, Lula citou o discurso na OIT, afirmando que a América do Sul é um ¿continente sólido do ponto de vista geológico, mas em formação sob o aspecto político¿. Por isso, argumentou, as divergências não devem assustar. Lula destacou que as negociações na área externa não se guiarão por interesse de um empresário, diplomata ou sindicato, porque são uma política de Estado. Sendo assim, o Brasil precisa estar bem com todos os países do continente.

Ele disse que se sente incomodado com a crise entre Argentina e Uruguai sobre a construção de uma fábrica de celulose na região fronteiriça e que, de vez em quando, envolve-se nas disputas entre Venezuela e Colômbia. Já as relações entre o Brasil e a Argentina, segundo Lula, que já foram tumultuadas, estão em ótima fase:

¿ É com esse jogo de cintura que consolidaremos a democracia.

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