Título: LULA FAZ MEA-CULPA EM RELAÇÃO A TRABALHADORES
Autor: Geralda Doca e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 04/05/2006, Economia, p. 30

Presidente diz em evento da OIT que precisa de mais tempo para avançar em reformas

BRASÍLIA. Ao discursar durante seminário da Organização Internacional do Trabalho (OIT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez ontem um mea-culpa em relação a melhorias para os trabalhadores em sua gestão. Sem conseguir avançar na reforma sindical e trabalhista, Lula envia na próxima semana um pacote de medidas em que propõe algumas mudanças nessa área. Mesmo assim, o presidente falou como candidato e disse que precisa de mais tempo para corrigir as mazelas do passado, resultado da estagnação da economia e do aumento do desemprego depois das privatizações realizadas no governo anterior.

¿ Recuperar esse tempo perdido, possivelmente, leva mais que um mandato de um presidente da República ¿ afirmou Lula. ¿ Se tem uma coisa em política que eu odeio é dar um passo grande, ter uma distensão e não conseguir dar o segundo passo, ter que ficar um ano sem andar.

Presidente cobrou mais empenho de sindicatos

Lula justificou que os ministros que passaram pela pasta do Trabalho, durante o seu governo, enfrentaram problemas inesperados na política e dificuldades com a legislação. Ele também cobrou maior empenho dos sindicatos, empregadores e da Justiça trabalhista para impedir que cenas comuns da época em que iniciou sua profissão ¿ como a de trabalhadores comendo no meio do chão de fábrica ou sentados em uma privada, e de empresas que faziam buraco na porta dos banheiros para controlar a ida de seus funcionários ao sanitário ¿ não se repitam mais.

¿ Isso persiste em alguns lugares ainda. Muitas vezes porque os sindicatos não denunciam como deveriam denunciar, a Justiça não julga como deveria julgar e o empresário não tem a sensibilidade que deveria ter ¿ afirmou o presidente.

Presente no evento, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, disse que o governo pretende modernizar a legislação trabalhista, mas não retirar os direitos dos trabalhadores. Em seu discurso, Marinho destacou a geração recorde de empregos formais e o ganho real no salário-mínimo e nas aposentadorias e pensões do INSS, além dos programas de combate ao trabalho escravo e infantil.

O diretor-geral da OIT, Juan Somavia, elogiou as medidas, mas destacou que os países da América Latina precisam implementar uma agenda para os próximos dez anos a fim de gerar, no mínimo, 126 milhões de postos de trabalho formais. Esse é o contingente de desempregados e de trabalhadores que estão na informalidade. De cada dez empregos criados na região, seis estão no setor informal, destacou Somavia.

O pacote a ser enviado ao Congresso na próxima segunda-feira prevê a legalização das centrais sindicais, o direito de greve no setor público e a criação de um conselho nacional de relações do trabalho, que vai discutir mudanças na CLT e na estrutura dos sindicatos brasileiros.