Título: ACORDO COM PAÍS VIZINHO REMONTA À ERA VARGAS
Autor: Eliane Oliveira e Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 05/05/2006, Economia, p. 27

Desde a década de 30, Brasil negocia gasoduto

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na última quarta-feira que foi um erro estratégico do Brasil ficar dependente do gás boliviano. Com essa afirmação criticou três ex-presidentes: Fernando Collor de Melo (que assinou o primeiro contrato em 1992), Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso. Foi principalmente no período dos mandatos de Itamar e Fernando Henrique, de outubro de 1992 a janeiro de 2003, que o gasoduto foi construído e entrou em operação a partir de 1999.

O projeto para a colaboração energética entre Brasil e Bolívia já existia no papel desde a década de 30. Vários protocolos de intenção foram assinados ¿ em 1978, entre os presidentes Ernesto Geisel e Juan Pereda; em 1984, entre João Batista Figueiredo e Hernan Siles Suazo; e em 1988, entre José Sarney e Paz Estensoro ¿ todos com termos bastante distintos entre si. Entretanto, os projetos não saíram do papel.

Durante este período de negociações frustradas com o Brasil, a Bolívia passou a exportar para a Argentina. Porém, o país se tornou auto-suficiente e, com o fim do contrato de importação de gás boliviano por parte da Argentina, em 1992, as negociações entre Brasil e Bolívia foram retomadas.

À época, o projeto tinha como objetivo principal atender à necessidade de mudança de matriz energética brasileira. Entre as possíveis alternativas de importação analisadas pela Petrobras, o gás natural boliviano se mostrou viável por algumas vantagens: elevado volume de reservas do país, preços atrativos, um produto menos poluente e próximo ao Brasil.

O acordo para construção do gasoduto foi assinado pelo então presidente Fernando Collor de Mello no dia 12 de agosto de 1992. Collor deixou o cargo no dia 2 de outubro do mesmo ano por impeachment. Já na gestão de Itamar Franco, entre 1992 e 1995, novos contratos foram assinados. Mas foi no período do governo de Fernando Henrique Cardoso que a construção do gasoduto foi levada adiante e concluída, entrando em operação em 1999. (Ramona Ordoñez)