Título: GNL É OPÇÃO DEMORADA
Autor: Janaina Figueiredo, Eliane Oliveira e Monica tavar
Fonte: O Globo, 05/05/2006, Economia, p. 28

Construir estrutura no país levaria três anos

A ameaça do presidente Lula de cortar a compra de gás boliviano caso os preços aumentem não pode virar realidade a curto prazo. Para ter como alternativa o gás natural liqüefeito (GNL) ¿ que não precisa de gasodutos para ser transportado, como o gás natural comum ¿ e depender menos do país vizinho, o Brasil tem que esperar pelo menos três anos para que toda a infra-estrutura necessária fique pronta. De acordo com o especialista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), uma unidade com capacidade de processar entre oito milhões e dez milhões de metros cúbicos por dia consumiria de US$300 milhões a US$500 milhões. Ainda assim, ele acredita que esta é a melhor solução:

¿ O Brasil já deveria ter feito isso há muito tempo. Não dá para ficarmos dependentes de um país. O GNL é um pouco mais caro (de US$6 a US$7 por milhão de BTU, contra US$5,50 do gás boliviano, considerando-se custo do produto e do transporte), mas, se eles aumentarem o preço como estão prometendo, o GNL é uma solução.

O coordenador do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP) R. Fernandes explica que o GNL é o gás natural resfriado e transformado em líquido para ser transportado. Ele é produzido com o gás natural encontrado nos campos não associados a petróleo. O Brasil tem reservas de gás natural não-associado, mas não tem unidades para transformá-lo em líquido. Assim, a Petrobras teria que importar o combustível líquido e aqui fazer o que os especialistas chamam de regaseificação, ou seja, transformá-lo em vapor novamente. A construção dessas unidades de regaseificação é que levaria, pelo menos, três anos. Os principais fornecedores seriam Qatar, Trinidad y Tobago, Nigéria, Malásia e Indonésia.

A Petrobras já iniciou os estudos para desenvolver um projeto de importação do GNL, como alternativa ao gás da Bolívia. Os investimentos não são revelados, mas os estudos estimam a construção de unidades de regaseificação para a importação de 14 milhões de metros cúbicos por dia de GNL para o Sudeste e de outros 6 milhões de metros cúbicos para o Nordeste.

Devido à crise, a companhia está desenvolvendo um plano de emergência pelo qual pretende ter uma oferta adicional de 4 milhões de metros cúbicos por dia a partir de 2008 provenientes do aumento da produção interna ou de importação de GNL.