Título: OPOSIÇÃO DEFENDE RELAÇÃO COM BRASIL
Autor: Janaina Figueiredo, Eliane Oliveira e Monica tavar
Fonte: O Globo, 05/05/2006, Economia, p. 28

Ex-presidente da Bolívia vê risco de país voltar a ser maior produtor de cocaína

LA PAZ. O ex-presidente da Bolívia Jorge Tuto Quiroga, chefe do Poder Democrático Social (Podemos) e principal líder de oposição a Evo Molares, disse ontem que a aproximação com o Brasil na economia é o melhor caminho para proteger o país de futuros riscos à estabilidade financeira. Ao lamentar os danos que o decreto de nacionalização do setor de petróleo pode causar às relações com os brasileiros, ele acusou o governo de ¿fazer pirotecnia¿ desnecessária ao ocupar os campos de gás e refinarias com tropas do Exército. Outra preocupação de Quiroga é com a política de Morales para os plantadores de coca:

¿ Se o governo não mudar sua política de apoio, em um ano e meio, no máximo, a Bolívia lamentavelmente recuperará a posição de principal produtor mundial de cocaína, que havia perdido depois de um imenso esforço interno.

Tuto Quiroga, que ficou em segundo lugar nas eleições presidenciais do ano passado, disse que Morales está cruzando os braços para a situação das maiores áreas de plantio de folhas de coca do país, entre elas a região do Chapare.

¿ A alegação de que a produção inteira serve ao mercado consumidor de mate é uma balela. A quantidade produzida é muito grande para isso ¿ acusou o ex-presidente.

Quiroga, que ocupou o cargo de 2001 a 2002, quando Hugo Banzer se afastou por motivo de doença, disse que a Bolívia disputava o topo da lista com a Colômbia, com uma produção anual de 250 toneladas, até 1997. Com o combate aos plantadores iniciado no ano seguinte, a produção sofreu uma queda de até 85%, diferença que agora pode ser recuperada em pouco mais de um ano.

Tuto Quiroga também teme um colapso econômico no país. Ele disse que sempre defendeu o reajuste do preço do gás vendido ao Brasil e à Argentina, mas na base do diálogo e não por um processo impositivo. Para ele, a estabilidade financeira vivida pela Bolívia pode estar com os dias contados:

¿ Estamos vivendo um momento virtuoso. Em três anos, nossas exportações triplicaram. Nossos minérios estão bem cotados no mercado internacional. A China, que produz manufaturas baratas, conta com nossa matéria-prima. Brasil e Argentina, que precisam do nosso gás, respondem por 50% das exportações bolivianas. Tudo isso, contudo, pode mudar da noite para o dia. Não sei até quando essa conjuntura permanecerá favorável.

A saída para blindar a Bolívia, segundo ele, seria intensificar as relações comerciais com o Brasil. Para ele, o governo precisa deixar de lado a pirotecnia e estabelecer um diálogo mais sóbrio, bilateral, com o vizinho, sem a presença de outros países, como a Venezuela.

¿ A presença de Hugo Chávez no encontro de Puerto Iguazú é inexplicável. O problema do gás exige um entendimento bilateral. O que o presidente venezuelano foi fazer lá?