Título: CVM INVESTIGA MOVIMENTAÇÃO COM AÇÕES DA VARIG
Autor: Patricia Eloy, Erica Ribeiro e Diogo de Hollanda
Fonte: O Globo, 05/05/2006, Economia, p. 31

Cotações dispararam 600% na última semana e volume de negócios dobrou em apenas dois dias na Bolsa

A disparada nas ações da Varig chamou a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que decidiu abrir investigação para apurar a valorização de 602,9% nas ações da empresa nos últimos sete pregões. Para se ter uma idéia, no período o Índice Bovespa (Ibovespa), que reúne os papéis mais negociados da Bolsa, subiu apenas 3,07%. Apenas ontem, as ações preferenciais (sem direito a voto, as mais negociados) da Varig fecharam em alta de 70,26%, cotados a R$7,10. Há três semanas, valiam R$0,58, segundo dados da consultoria Economática.

Quando as ações registram oscilação ou volume financeiro fora dos padrões, as operações caem automaticamente no filtro da CVM, que abre investigação para apurar se houve, por exemplo, uso de informação privilegiada. No caso da Varig, tanto a alta quanto a movimentação chamaram a atenção.

Ações subiram mais de 1.000% em três semanas

No dia 24 de abril, a negociação com ações da Varig movimentou R$465,4 mil e o volume mais que triplicou no dia seguinte, atingindo R$1,61 milhão. Quatro dias depois, chegava à casa dos R$10 milhões. Ontem, as operações somaram R$78,3 milhões, quase o dobro da véspera.

A forte valorização dos papéis teve início há cerca de três semanas, com especulações de que o governo poderia ajudar a companhia. Desde o dia 13 de abril, as ações da Varig já acumulam alta de 1.124%.

¿ É pura especulação. Há muita notícia desencontrada ¿ diz o analista Marcelo Ribeiro, da corretora Pentágono.

Dentro do plano de recuperação da Varig está prevista a criação de fundos de investimentos e participações (FIPs). O Banco Brascan foi escolhido para gerir estes fundos e o principal deles é o FIP Controle, que concentrará todas as ações hoje ainda em poder da Fundação Ruben Berta (FRB), em torno de 87%. Tão logo estas ações sejam transferidas (o que deverá acontecer após a formalização da constituição da FIP na assembléia de credores, marcada para a próxima segunda-feira), a FRB passa de acionista a cotista no fundo. O objetivo é, num segundo momento, vender cotas do FIP Controle para investidores e também para credores que queiram transformar dívidas em ações.

Mesmo que a proposta apresentada pelo governo, em conjunto com a consultoria Alvarez & Marsal, que prevê a divisão da empresa em Varig Doméstica e Varig Internacional, seja aprovada, a criação dos fundos não perde o valor. Isso porque, pela proposta, a Varig Internacional, que concentraria as operações para o exterior e ficaria com o passivo da companhia, continuaria em recuperação judicial.

Ribeiro lembra que, mesmo quando a empresa estava numa situação muito melhor, o preço médio de seus papéis girava em torno de R$1,50. De 2001 para cá, a Varig reduziu de 40% para 20% sua participação no mercado de vôos doméstico e teve a situação financeira bastante deteriorada. As dívidas estão entre R$8 bilhões e R$10 bilhões ¿ os valores variam porque foram feitas várias auditorias.

(*) Do Globo Online