Título: À procura do discurso
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 06/05/2006, O GLOBO, p. 2

Os tucanos fizeram pajelança anteontem em Belo Horizonte à procura de caminhos para a candidatura de Geraldo Alckmin. Examinaram pesquisas reservadas que mostram estagnação da candidatura e estabilidade de Lula no patamar dos 40%. Segundo o Ibope, Alckmin perdeu pontos em seu maior reduto, São Paulo. Os tucanos não crêem que isso tenha sido causado apenas pelas denúncias contra o candidato.

Denúncias não param de atingir Lula ou integrantes de seu partido e de seu governo. No entanto ele recuperou uns pontinhos em São Paulo, que atribuem à alta exposição e às ¿flores de abril¿, como aumento do salário-mínimo e o reajuste dos aposentados. Os tucanos decidiram acelerar as viagens do candidato para que ele se torne mais conhecido. Aceleram também os arranjos estaduais para que seja logo fechada a aliança com o PFL. Alguns admitem, entretanto, que está faltando um discurso consistente ao candidato. Banho de ética, choque de gestão ou controle do gasto público são palavras de ordem que agradam às elites, à classe média e aos setores mais esclarecidos. Mas entre eles, Alckmin já está bem. Em São Paulo, segundo o Ibope, ele tem 44% de preferência entre os eleitores de nível superior, na pesquisa espontânea, contra apenas 17% de Lula. Já entre os de menor instrução, Lula vence Alckmin, espontaneamente, por 26% a 17%. Alckmin é o preferido dos que ganham mais de cinco salários-mínimos mas perde entre quem têm renda familiar abaixo disso. É fácil concluir que ele precisa de um discurso para atrair eleitores mais pobres.

José Serra saiu da convalescença de uma cirurgia e retomou a campanha para governador. Continua tendo chances, segundo o mesmo Ibope, de ser eleito no primeiro turno, enfrente Marta ou Mercadante pelo PT. Serra tem dado sinais de que fará uma campanha mais inclinada à esquerda, vale dizer, com discurso social-democrata, rótulo que o PSDB carrega no nome. Vale ainda dizer, com o perfil de centro-esquerda que sempre teve e que despertou receios nas elites paulistas, contribuindo para a escolha de Alckmin como candidato a presidente. Colar em Serra seria uma boa receita para Alckmin mas isso não tem acontecido em São Paulo.

O quadro eleitoral nacional passará agora por uma definição crucial, a do PMDB. É pouco provável que o partido venha a fechar uma coligação com Lula ou com Alckmin, preferindo a solteirice que lhe garante a liberdade de coligação nos estados. Mas com a candidatura de Garotinho praticamente descartada, como ele mesmo admitiu ontem, alguns milhões de votos entram no pregão eleitoral. Garotinho tem em média 15% dos votos. Seu eleitorado é anti-Lula, e ele está apontando o presidente como algoz de sua candidatura. Trata assim de barrar a migração de seus votos para o petista. O destino mais óbvio destes votos de oposição é a candidatura do tucano. Mas para isso, ele precisa urgentemente mostrar-se um adversário competitivo diante de Lula. A terceira candidatura até agora existente é a da senadora Heloisa Helena. Não parece porto atraente para eleitores de Garotinho.

Mas a indefinição ainda é grande, o que favorece a oposição. Ao analisar o detalhamento da pesquisa Ibope a Consultoria Engracia destaca a existência, em São Paulo, de 49% de eleitores que não sabem em quem votar ou pretendem votar nulo ou em branco. É muito voto ainda no ar.