Título: CONTRATO MILIONÁRIO É PARA APOSTILAS
Autor: Taís Mendes
Fonte: O Globo, 06/05/2006, O País, p. 15

Livros foram adaptados do material usado em colégio de deputado ligado a Garotinho

SÃO PAULO e RIO DE JANEIRO. O contrato de R$33,8 milhões entre a Secretaria estadual de Educação do Rio e a Associação Educacional São Paulo (Aesp) é para o fornecimento de apostilas para alunos do 3º ano do ensino médio e treinamento de professores. Os livros foram adaptadas do material utilizado pelo Colégio Holos, mantido pela Unoeste, universidade do deputado federal Paulo Lima (PMDB-SP), dono da Aesp.

Lima é da base do ex-governador Anthony Garotinho. Apesar de citado no site do PMDB, ele disse que não vai levar o protesto à OEA. Segundo o coordenador do projeto, Luciano Dallo, o material sofreu modificações no conteúdo para ser adaptado ao ensino no Rio. Ele disse que o curso já não funciona, mas o deputado afirmou que ele ainda existe.

De acordo com Lima, a Aesp ganhou uma concorrência por tomada de preços de 17 outras empresas para o projeto. Mas no Diário Oficial consta que a Aesp foi contratada por dispensa de licitação. O contrato foi assinado em 31 de março do ano passado.

¿ É um projeto maravilhoso, o melhor do Brasil, que dá oportunidade para jovens terem material de escolas particulares ¿ disse Lima.

Além de enviar quatro livros para cerca de 150 mil alunos (600 mil no total) e outros 62 mil para professores do último ano do ensino médio, a Aesp diz que pretende fazer a capacitação de 15 mil docentes e dar duas provas para todos os alunos. Para capacitar os professores, a Aesp terá 30 profissionais.

Governo do estado não fala novamente sobre o assunto

A Aesp teve liberados R$2,5 milhões deste contrato em 18 de abril. Segundo Lima, o primeiro lote das apostilas foi entregue ao governo. Mas não chegou a alunos e professores. O Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação fez um levantamento em cinco escolas estaduais, onde estudam cerca de dez mil alunos, e ninguém recebeu as apostilas.

¿ Houve problemas devido à troca de secretários. A distribuição do material é de responsabilidade do governo. Mas o conteúdo pode ser adiantado ¿ disse o deputado.

Ontem, em São Paulo, a sede da empresa, que consta como sendo uma clínica, continuou fechada. O deputado Carlos Minc (PT) entrou com pedidos de investigação no Tribunal de Contas e no Ministério Público. Já Alessandro Molon (PT) pretende entrar com uma ação popular pedindo o fim do contrato e a devolução do dinheiro. O governo foi procurado mas, de novo, não se pronunciou.