Título: FUTURO SOMBRIO NOS TRANSPORTES
Autor: Célia Costa e Rodrigo March
Fonte: O Globo, 06/05/2006, Rio, p. 18

Plano da prefeitura prevê que número de viagens de carro crescerá 13% em cinco anos

Apresentado na última quarta-feira pela prefeitura, o Plano Diretor de Transportes do Rio traça um cenário catastrófico para o trânsito da cidade, caso não seja feito nada para melhorá-lo num horizonte não muito distante. Só para se ter uma idéia, o plano prevê um crescimento das viagens de automóvel na Região Metropolitana de 13% daqui a cinco anos. O estudo, porém, faz projeções até 2025, quando estima-se que o tempo das viagens de carro na cidade aumentará 28% e a velocidade no trânsito será reduzida em 25%.

De acordo com o plano, que vai ser apresentado à Câmara para orientar a política de transportes, o número de viagens em transporte individual, na Região Metropolitana, aumentará 23% até 2015 e 44% até 2025. O estudo ressalta que ¿o expressivo aumento de viagens em automóvel representará um impacto significativo no sistema, representando cerca de 222 mil veículos a mais em circulação na cidade apenas no período de pico da manhã¿.

Com relação ao transporte coletivo, o crescimento das viagens na região será de 6% nos próximos cinco anos, de 13% nos próximos dez anos e de 28% nas próximas duas décadas. Com isso, estima-se que haveria um aumento do tempo de viagem nos ônibus na cidade de 23% e, ao mesmo tempo, uma redução na velocidade geral do sistema de 20% até 2025.

Caso não seja feito nada para melhorar o sistema, os técnicos da prefeitura prevêem impactos significativos em alguns corredores viários da cidade. Em 20 anos, o aumento do volume de carros será de 17% na Avenida Brasil; 28% na Ponte Rio-Niterói; 55% na Linha Amarela; 31% na Auto-Estrada Lagoa-Barra; e 32% na Avenida das Américas.

Em alguns corredores do transporte coletivo, o impacto seria semelhante no mesmo prazo. O aumento do volume de passageiros na Avenida Ayrton Senna, por exemplo, seria de 56%; 37% na Avenida das Américas; e 48% na Ponte Rio-Niterói. A Avenida Brasil, como já se encontra atualmente esgotada, deverá manter o nível atual, segundo o plano.

Para que a situação não chegue a tal ponto, a prefeitura faz três simulações de alternativas de investimento. A alternativa de investimento mínimo, com menor necessidade de aporte de recursos, é apontada como a que apresenta melhor relação custo/benefício. Essa alternativa apresenta um conjunto de intervenções a serem implementadas a curto e médio prazos. Até 2015, seria necessário um investimento de R$9,6 bilhões.

Entre as intervenções, o plano propõe a extensão da Linha 1 do metrô até a Praça General Osório e da Linha 2 até a Praça Quinze; a implantação do sistema de bondes da Barra; a construção de 140 quilômetros de ciclovias; e uma série de projetos viários, como a transformação da Avenida das Américas em via expressa e a implantação de cruzamentos em desnível na Avenida Borges de Medeiros e na Rua Mário Ribeiro.

Segundo o plano, se essas obras não saírem do papel, haverá uma ¿sensível piora¿ do sistema de transportes da cidade. Apesar disso, o secretário municipal de Transportes, Dalny Sucasas, não mostra tanta preocupação com o futuro:

¿ Hoje a prefeitura tem uma capacidade anual de investimento de até R$600 milhões. E, como o próprio nome da alternativa diz, o investimento é mínimo. Mas o governo do estado e o federal também devem fazer a sua parte. Para isso, devemos superar todos os entraves políticos.

Ao contrário do que pensa o secretário, para o coordenador do Programa de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ, o engenheiro Paulo Cézar Martins Ribeiro, a situação prevista é extremamente preocupante.

¿ O plano é importante porque está afinado com o Plano Diretor de Transporte Urbano (PDTU) da Região Metropolitana, ou seja, há uma integração entre o que se pensa para a região e o que se pensa para a cidade. Ao mesmo tempo, a prefeitura não fez as obras que prometeu para os Jogos Pan-americanos de 2007, que terão que ser gerenciados com operações de tráfego ¿ lembra o professor, citando as obras do chamado Transpan, metrô que faria a ligação Barra-Aeroporto Tom Jobim e do corredor de ônibus T5, que ligaria a Penha à Barra.

Para o especialista, os projetos viários propostos, como os cruzamentos em desnível na Lagoa, são obras pontuais, que não desafogarão o trânsito:

¿ São projetos que não resolvem o congestionamento da Auto-estrada Lagoa-Barra, prejudicada pelo Túnel Rebouças, que já está no seu limite. Se não houver investimento em transporte público de massa, o impacto da frota não será atenuado. A curto prazo, a primeira coisa a ser feita é reorganizar o sistema de transporte de ônibus. Mas até agora nada foi feito também.

A prefeitura corre contra o tempo, pois, como o próprio plano revela, muitas das intervenções mínimas deverão sofrer um esgotamento antes do fim do período, como como o corredor T5, que já começa operando próximo da sua capacidade máxima, e o sistema viário, que passaria a ter indicadores de desempenho próximos dos apresentados atualmente.