Título: ESTRATÉGIA ALIA AÇÃO EMPRESARIAL E DIPLOMACIA
Autor: Luís Fernando Rocha e Ramona Oedoñez
Fonte: O Globo, 06/05/2006, Economia, p. 33

Petrobras endurece, mas Estado quer evitar influência de Chávez na Bolívia

BRASÍLIA. O governo federal e a Petrobras estão atuando de forma coordenada no episódio envolvendo a nacionalização do setor de petróleo na Bolívia. Enquanto a estatal age como empresa, elevando o tom e fazendo até ameaças, para não ter prejuízos, o Estado usa toda sua diplomacia para promover uma reaproximação mais forte do que nunca com a Bolívia. A razão desse tratamento caloroso que passa agora a ser dado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a seu colega Evo Morales ¿ com a promessa de realização de projetos conjuntos e respeito à soberania da Bolívia ¿ tem nome: Hugo Chávez, presidente da Venezuela.

Convicto de que se o Brasil deixar de comprar gás a Bolívia quebraria, Lula quer evitar que Morales se sinta ameaçado e corra para os braços de Chávez, que sempre oferece ao colega boliviano ajuda em todas as áreas, inclusive em transferência de tecnologia da petrolífera venezuelana PDVSA para a boliviana YPFB. Ao mesmo tempo, a Petrobras é uma empresa de capital aberto, tem acionistas preocupados com suas finanças e uma imagem a zelar no exterior. Por isso, é obrigada a recorrer aos fóruns internacionais, para que todo o dinheiro que investiu em território boliviano não escorra pelo ralo.

¿ Não podíamos deixar o Evo cair nas mãos do Chávez. A Bolívia é um país quase insolvente, com problemas seriíssimos, e não há por que não negociarmos um entendimento que seja razoável para os dois lados ¿ disse uma fonte do governo.

Outro motivo da adoção de uma postura mais dócil da parte do governo é o fato de que não há como o Brasil, a curto prazo, substituir o gás natural por outro combustível ou comprar o produto de outros países, o que só seria possível em três anos.

Fontes do Itamaraty e do Palácio do Planalto comentavam ontem que o momento é delicado para Lula. Um estrago nas relações com a Bolívia seria explorado pela oposição. Em ano eleitoral, fica difícil para Lula explicar o desmoronamento da integração da América do Sul, seu projeto prioritário, devido a divergências que podem ser solucionadas. O tempo também é aliado: o prazo para as negociações de preços é de seis meses.