Título: Chanceler afirma que há um limite para aceitar reajuste do preço do gás
Autor: Monica Tavares e Eliane Oliveira
Fonte: O Globo, 06/05/2006, Economia, p. 34

Segundo Amorim, a partir de um certo nível é melhor usar óleo ou GLP

BRASÍLIA. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que o aumento do preço do gás importado da Bolívia terá um limite, para que o entendimento entre o Brasil e o país vizinho seja satisfatório para os dois lados. Caso contrário, o Brasil buscará alternativas para substituir o produto, como óleos combustíveis e GLP (o gás de botijão).

¿ É óbvio que há um limite, que é o da viabilidade dos negócios. Se você aumentar o preço do gás a partir de um certo nível, passa a ser mais interessante usar óleo combustível, ou, dependendo da atividade, GLP ¿ afirmou.

Segundo o ministro, nos próximas dias uma missão de funcionários brasileiros ¿ do governo federal e da Petrobras ¿ vai a La Paz para dar prosseguimento às negociações.

¿ Agora, as conversas se darão no âmbito técnico, e não diplomático ¿ disse Amorim.

Ele frisou que a negociação de preço será feita entre a Petrobras e a petrolífera estatal boliviana, a YPFB. E destacou que, em sua opinião, o encontro dos presidentes de Brasil, Bolívia, Venezuela e Argentina anteontem, na cidade argentina de Puerto Iguazú, abriu uma perspectiva para a negociação e para o diálogo.

`Que a nacionalização iria ocorrer já sabíamos¿

Ao ser perguntado se houve erro de avaliação sobre as ações em elaboração pelo presidente boliviano, Evo Morales, o ministro afirmou que o governo brasileiro sabia que a Bolívia iria nacionalizar suas reservas petrolíferas, mas não tinha informações sobre quando ou como isso ocorreria. Segundo Amorim, as avaliações se baseavam em hipóteses:

¿ Que a nacionalização iria ocorrer já sabíamos, porque fazia parte de uma lei aprovada há um ano. Agora, se seria no dia 1ª de maio, não dava para saber. Dizia-se que sairia na Semana Santa e não aconteceu.

Amorim rechaçou as críticas feitas contra a política externa brasileira e afirmou que a diplomacia do presidente Lula é baseada numa orientação que visa à integração sul-americana. Para ele, essa política externa, ao contrário de dificultar, pode facilitar o encontro de uma solução para esse problema na Bolívia.

¿ Vamos defender, sim, os interesses da Petrobras, do consumidor brasileiro e a garantia de abastecimento no Brasil. Mas temos de fazer isso sem necessariamente usar de estridência, que só contribui para agravar a relação do Brasil com a Bolívia ¿ disse o ministro.

Amorim assegurou que o governo não está ¿jogando para a platéia¿. E, visivelmente irritado, disse a um jornalista:

¿ O que você quer que eu faça, que eu invada a Bolívia e obrigue eles a botarem no poço o preço que eu desejo? A Bolívia é, sim, um país soberano. A Bolívia pode, sim, tomar decisões soberanas.