Título: DECRETO ELEVA POPULARIDADE DE MORALES
Autor: Chico Otavio
Fonte: O Globo, 06/05/2006, Economia, p. 34

Bolivianos aprovam nacionalização e até oposição dá trégua ao presidente

LA PAZ. As pesquisas de opinião, aguardadas para os próximos dias, deverão confirmar uma tendência facilmente percebida nas ruas de La Paz: o presidente Evo Morales, após nacionalizar as reservas de petróleo, vive o auge de sua popularidade. Para fortalecer ainda mais sua imagem, uma propaganda de TV mostra cenas do presidente visitando uma refinaria, cercado de soldados, no dia do anúncio da medida, e termina com a palavra ¿cumpre¿, numa referência à promessa de campanha de nacionalizar o setor de gás.

Analistas esperam que a aprovação do governo, depois do decreto, supere o patamar de 80%. Eleito pelo Movimento ao Socialismo (MAS), com 56% dos votos válidos, Morales contava com 74% de aprovação popular em janeiro, segundo o diário boliviano ¿La Razón¿. No mês seguinte, teve uma queda de quatro pontos, mas em abril, quando o governo já dava sinais claros de que nacionalizaria as petroleiras, a aprovação medida pelo diário atingiu a casa dos 80% ¿ o mesmo percentual apurado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) quando sondou se os bolivianos eram a favor da nacionalização do gás.

Poucos são os que ousam criticar Morales nos últimos dias. Mesmo as entidades mais radicais, como a poderosa Central Operária Regional de El Alto (COR), cidade vizinha a La Paz, assumiram apoio discreto ao presidente. O secretário-executivo da COR, Edgar Patana, disse que esperava mais do decreto, mas defende as medidas:

¿ O decreto de Primeiro de Maio não é o que pedíamos. As empresas ainda continuam na sociedade e a lógica do negócio foi mantida. Mesmo assim, foi muito mais do que tinha sido feito até hoje. Talvez seja uma estratégia do governo para avançar mais futuramente.

Líder do movimento social da terceira maior cidade da Bolívia (El Alto tem cerca de 900 mil habitantes), Patana apoiou a proibição à EBX, do empresário brasileiro Eike Batista, por falta de licença ambiental. Ele defende uma ampla reforma agrária, incluindo as terras de brasileiros. Patana, que pertence a uma família de camelôs de El Alto, só torce nariz para a constante ingerência do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em assuntos bolivianos:

¿ Ficamos contentes quando ele nos respalda, mas não concordamos em ser manipulados.

Três dias depois do decreto de nacionalização, o Comitê Cívico Pró-Santa Cruz de la Sierra, cidade onde a popularidade de Evo Morales não era tão forte, tentou fazer uma greve de 24 horas. O movimento foi cancelado depois que duas das mais importantes entidades que integram o comitê preferiram apoiar o presidente neste momento.

Na semana em que nacionalizou as reservas de petróleo e gás, Morales anunciou também um aumento do salário-mínimo, de 440 para 500 bolivianos (de pouco mais de US$50 foi para US$62) e anulou os efeitos do decreto que permitia demissão após três meses sem pagamento dos direitos trabalhistas. No Largo do São Francisco, o principal centro de manifestações políticas de La Paz, um anônimo pediu a palavra para o que pensava do presidente.

¿ Ele é um de nós na presidência. Um indígena que chegou ao mais alto posto. Mais do que nunca, precisamos ficar a seu lado.