Título: PRODUÇÃO INDUSTRIAL RECUOU 0,3% EM MARÇO
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 06/05/2006, Economia, p. 37

Mas resultado não comprometeu desempenho da atividade no primeiro trimestre do ano, que registrou alta de 4,6%

Após o avanço de 1,2% em fevereiro, a produção industrial pisou no freio, recuando ligeiros 0,3% em março, descontados os efeitos sazonais. Ainda assim, o resultado negativo não comprometeu o trimestre, informou ontem o IBGE. Houve expansão de 4,6% frente aos primeiros três meses de 2005 e alta de 1,2% sobre o trimestre anterior. E, no acumulado dos últimos 12 meses, um avanço de 3,3%, que interrompeu a trajetória de queda ao longo de 2005. Um cenário que, para analistas, dá sinais de que a indústria ensaia uma recuperação nos próximos meses.

¿ O indicadores macroeconômicos sugerem que não há imediato risco de redução da produção. Não há perspectiva de pressão inflacionária, houve avanços no mercado de trabalho, há expectativa do aumento do salário-mínimo no consumo e não há sinal claro de aumento de inadimplência ¿ disse o economista Sílvio Sales, do IBGE, lembrando que, apesar do índice negativo de março, a atividade industrial ficou apenas 0,5% abaixo do recorde de dezembro.

O recuo de 0,3% atingiu 17 das 23 atividades apuradas pelo IBGE. E, segundo analistas, essa queda mostra que a indústria está em ajuste de estoques. Houve desaceleração em setores como farmácia (-14,3%) e bebidas (-5,5%) ¿ destaques em fevereiro. E alta em áreas como material eletrônico (4,8%) e celulose e papel (1,9%).

¿ O que se nota é uma estabilidade, uma acomodação dos setores que vinham crescendo muito. Mas, quando se vê o ritmo das vendas, percebe-se que há espaço para a indústria crescer ¿ acrescentou o economista do IBGE, frisando que a oferta de crédito vem favorecendo a indústria ao estimular o consumo interno.

O crescimento de 4,6% no primeiro trimestre frente ao mesmo período de 2005 atingiu 19 dos segmentos pesquisados. A indústria extrativa foi a de maior impacto (13,2%) sobre o índice, em especial a produção de ferro e petróleo. Destaque para o ramo de máquinas para escritório e equipamentos de informática (67,4%), que refletem maior produção de computadores. E ainda para o de material eletrônico e de comunicações (21,7%), com o boom de produção de televisores e celulares. E todas as categorias de uso registraram ganho de ritmo, com destaque para bens intermediários (2,8%).

Na sua análise sobre o resultado da indústria em março, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) destaca, no entanto, que o terceiro trimestre de 2005 foi muito ruim, uma recuperação apresentou-se no trimestre seguinte e uma estagnação caracterizou o primeiro trimestre de 2006. O relatório recomenda que se dê continuidade ¿ ou se acelerem ¿ as reduções das taxas de juros e mais esforço para tornar a taxa de câmbio menos prejudicial aos exportadores.

Na avaliação de Eduardo Velho, economista-chefe da Mandarim Gestão de Ativos, a queda pontual da indústria em março não inverte a tendência de crescimento no segundo trimestre.

Projeção do PIB passou de 1,2% para acima de 1,7%

Para Velho, é a partir de agora que a indústria começará a sentir a redução dos juros.

¿ Essa volatilidade do primeiro trimestre é um reflexo do ajuste de estoques. E até mesmo efeito do câmbio, que atinge os semiduráveis como calçados e têxteis ¿ disse o economista, para quem o Banco Central deve reduzir em 0,75 ponto percentual os juros básicos (hoje em 15,75% ao ano) em maio.

O economista diz que a atividade industrial de março ¿ que frente a março de 2005 teve alta de 5,2% ¿ pode conduzir a uma alta em torno de 1,5% no PIB do primeiro trimestre.

Segundo Solange Srour, economista-chefe da Mellon Global Investments Brasil, a projeção do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas no país) do trimestre foi revista de 1,2% para acima de 1,7%. Isso porque a previsão era de que a desaceleração em março fosse maior, de 0,7%:

¿ A renda se recupera sem sentir pressão inflacionária. E a capacidade instalada não dá indícios de que está em alta.