Título: EUA reagem a acusações de que permitem tortura
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Fonte: O Globo, 06/05/2006, O Mundo, p. 39

País presta contas a comissão da ONU

GENEBRA. Os Estados Unidos rebateram ontem acusações de que seus métodos de combate ao terrorismo provocam tortura. No primeiro comparecimento do país diante da Comissão da ONU contra Tortura, John Bellinger, alto assessor jurídico do Departamento de Estado americano, defendeu o tratamento dado aos suspeitos de terrorismo e disse que seu país apóia a proibição de tortura, considerando ¿relativamente poucos¿ os casos de abusos contra detentos.

Chefe da delegação dos EUA para a Comissão da ONU contra Tortura, Bellinger afirmou que Washington está ¿absolutamente comprometida com o cumprimento de suas obrigações nacionais e internacionais para erradicar a tortura¿. Segundo ele, as alegações de que os EUA cometem abusos contra presos são altamente exageradas.

¿ Esta comissão não deve perder de vista o fato de que esses incidentes não são sistêmicos. Relativamente poucos casos de abuso e má conduta ocorreram no contexto do conflito armado dos EUA com a al-Qaeda ¿ disse Bellinger aos dez membros da comissão, no início de uma reunião de dois dias para analisar o cumprimento pelos EUA da Convenção contra Tortura e outros Tratamentos Cruéis, Desumanos e Degradantes, da ONU.

O representante americano disse ainda:

¿ Os Estados Unidos não praticam (tortura) e não aceitam isso.

Esta semana, grupos de direitos humanos voltaram a acusar os EUA de maltratar detentos com métodos de interrogatório cruéis, inclusive ameaças de afogamento. O país mantém presos centenas de suspeitos de terrorismo ¿ a maioria detida depois dos atentados do 11 de setembro de 2001 ¿ em prisões no Afeganistão, no Iraque e em sua base militar em Guantànamo, Cuba, alvo de uma série de denúncias de maus-tratos. Mas o maior escândalo de abusos desde o início da campanha contra o terror foi a divulgação de fotos de iraquianos sendo maltratados por soldados americanos na prisão de Abu Ghraib.

Delegação americana nega vôos secretos da CIA

Lowenkron disse à comissão que os abusos em Abu Ghraib são ¿indesculpáveis e indefensáveis¿

¿ Sabemos que a imagem de Abu Ghraib e questões sobre Guantánamo têm prejudicado a reputação dos Estados Unidos ¿ disse ele numa entrevista coletiva depois da reunião. ¿ Este é um dos motivos pelos quais o governo dos EUA está tentando firmemente pôr as coisas no rumo certo por meio de investigações que têm sido realizadas e por meio de nossa vinda à comissão hoje.

A delegação americana negou que a CIA transfira suspeitos de terrorismo em vôos secretos para países onde a tortura seria tolerada, embora uma investigação da União Européia tenha recentemente verificado centenas desses vôos.

Os dez membros da comissão pressionaram a delegação americana a esclarecer se os EUA responsabilizaram criminalmente os responsáveis por abusos e questionaram a definição do país para tortura.