Título: KREMLIN REAGE A CRÍTICAS DE CHENEY À RÚSSIA
Autor:
Fonte: O Globo, 06/05/2006, O Mundo, p. 40

Para a imprensa de Moscou, declarações de vice americano marcam o início de uma segunda Guerra Fria

MOSCOU. O Kremlin reagiu ontem com indignação a uma forte e inesperada crítica à Rússia feita anteontem pelo vice-presidente dos EUA, Dick Cheney. E a imprensa russa não deixou por menos: considerou a declaração o início de uma segunda Guerra Fria que poderia afastar Moscou de seus aliados ocidentais.

Quinta-feira, numa conferência de chefes de Estado do Mar Báltico e do Mar Negro em Vilnus, capital da Lituânia, diante de líderes de ex-repúblicas soviéticas, Cheney afirmou, referindo-se à Rússia:

¿ Não se serve a interesse legítimo algum quando petróleo e gás se tornam ferramentas de intimidação ou chantagem, seja com manipulação de suprimento ou tentativas de monopolizar o transporte.

Meses atrás, a Rússia fora criticada por interromper por um breve período seu fornecimento de gás à Ucrânia, numa disputa por preços que afetou o suprimento na Europa. Mas Cheney fez também outras críticas:

¿ Em muitas áreas da sociedade civil, da religião e da mídia até grupos de apoio e partidos políticos, o governo (russo) tem sido injusto e impropriamente restringiu os direitos de seu povo ¿ disse ele. ¿ Outras ações do governo russo têm sido contraproducentes e poderiam começar a afetar as relações com outros países.

Cheney diz admirar presidente do Cazaquistão

Foi uma das mais duras declarações dos EUA sobre a Rússia nos últimos anos. Paradoxalmente o vice de George W. Bush fez elogios ao presidente do Kazaquistão, Nursultan Nazarbayev, que não foi eleito democraticamente em seu país rico em petróleo, onde os EUA investem bilhões de dólares. Cheney disse admirar ¿desenvolvimentos econômicos e políticos¿ no país e expressou ¿tremenda confiança¿ no governo, marcado por escândalos de corrupção e pouca tolerância a opositores.

O Kremlin considerou a declaração de Cheney ¿completamente incompreensível¿. Já o chanceler russo, Sergei Lavrov, não comentou diretamente suas palavras mas criticou a reunião na Lituânia:

¿ Nos últimos anos, foram criados numerosos fóruns que refletem o desejo dos Estados de unir esforços para alcançar benefícios comuns. Mas alguns fóruns dão a impressão de que se realizam com o objetivo de se unir contra alguém.